HISTÓRIA E FILOSOFIA

domingo, 22 de maio de 2011

AMANDA GURGEL: UM GRITO PELA EDUCAÇÃO NO BRASIL

                “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”
                                                                                                                               Paulo Freire 

          Ao assistir hoje pela TV a entrevista da professora Amanda Gurgel que protestou na Assembléia Legislativa do estado do Rio Grande do Norte em relação à educação naquele estado, já foi percebido por todos o tamanho da repercussão que causou seu discurso. De fato, uma coisa é de se falar: o problema na educação no Brasil é de tal maneira grandioso que em poucas palavras pode se dizer o muito. 
          Penso que aos poucos, logo estaremos entrando em uma nova era para a educação. Tenho uma pretensão para lecionar e por isso, ou seja, pela minha escolha de seguir essa carreira, de certa forma sempre há quem possa me dizer algo para frustrar meu sonho. Vejo que tal atitude da professora foi um ato heróico, mas entendo que mais do que heroísmo  também é um dever nosso de não calar diante dos fatos. É bem verdade que a educação sozinha não vai resolver todos os problemas como disse Paulo Freire: "A Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda", mas sabemos que ela é a base para todo o resto. 
            Deveria escrever aqui sobre história como é próprio desse blog,  mas ao fazer o que estou fazendo, construo também a história. Assim a professora fez o que todos devem fazer em momentos de crise, ou seja, não ser mais uma vítima e se posicionar como um protagonista. 

                                         "Pensar por si mesmo significa procurar em si mesmo a suprema pedra de toque da verdade (isto é, em sua própria razão); e a máxima que manda pensar sempre por si mesmo é o esclarecimento [Aufklägrung]" (KANT, 2005b, p. 61).


segunda-feira, 9 de maio de 2011

O RATIO STUDIORUM E O MÉTODO PEDAGÓGICO JESUÍTICO

Jander (pai) e Davi (filho)
"Eu sou uma parte de tudo o que li"

                                                    John Kieram


          

            O que hoje entendemos por ensino pedagógico, tem suas raízes históricas numa das ordens religiosas mais conhecidas pela sua importância à catequese dos povos em terras recém descobertas pelos europeus no século XV. Dentre outros fatores históricos, a principal temática desse trabalho será a abordagem de forma sucinta e clara sobre o Ratio Studiorum. Um método pedagógico adotado pelos jesuítas trazido da Europa, e que foi instituído no Brasil Colonial onde até hoje suas estruturas sobrevive ainda que um pouco modificada.
           Em que ponto nossa pedagogia se apresenta como o método pedagógico jesuíta? O que podemos fazer para modificar o que ainda consideramos como “arcaico” no ensino acadêmico? Nesse trabalho o leitor encontrará fontes e opiniões de autores conhecedores do assunto e que será de grande importância para o conhecimento histórico, sociológico e filosófico, além de ficar sabendo a evolução da pedagogia brasileira sob uma visão crítica e filosófica.
"Para aqueles que crêem, nenhuma explicação é necessária; e para aqueles que não crêem, nenhuma explicação é possível"

                          Santo Inácio de Loiola


A PEDAGOGIA RELIGIOSOA: UMA HERANÇA MEDIEVAL


          Com a queda do império romano em 476, o mundo ocidental teve como a única instituição sólida a Igreja Católica. Ela foi depositária durante toda a Idade Média de todo saber até então restrito a filósofos e suas escolas como a Academia de Platão ou o Liceu de Aristóteles. Curiosamente a Academia foi fechada em 529 enquanto que na Europa o mosteiro de São Bento é criado dando início a uma das ordens religiosas mais antigas da Igreja: a Ordem de São Bento. Aqui começa a restrição ao saber. Durante quase mil anos todo saber do ocidente está direcionado principalmente aos monges copistas que, enclausurados em seus templos reescrevem os sistemas filosóficos. Enquanto que no mundo exterior aos mosteiros, vivem-se a chamada Idade Média onde em nenhum momento houve-se falar em leituras ou estudos como as escolas gregas ou novas concepções filosóficas.
          Só então no século XII é que começam a surgir as universidades as quis não mais parecem centros eclesiásticos, e sim instituições com uma pedagogia voltada para a sociedade da nobreza. Com forte tendência religiosa, essas universidades, saindo do seio dos mosteiros é que culminará através dos séculos posteriores a formação das instituições de ensino que conhecemos hoje. Segundo Lorenzo Luzuriag

               "A forma de nascimento das universidades é muito variada. Umas vêm espontaneamente, da autoridade e atração de um mestre, como as de Paris, Salerno e Oxford; outras, por fundação do Papa, como as de Roma, Pisa e Montpellier; outras por edito do príncipe, como as de Salamanca e Nápoles, e outras (o que é o mais freqüente) são criadas por ambos os poderes, como as de Praga, Viena, etc."  
          
               Com o contexto apresentado acima, temos agora uma pequena noção dos primórdios da pedagogia já institucionalizada e que foi durante até meados do século passado permeado do ensino religioso jesuítico. Só a partir de 1540 com a criação da Companhia de Jesus, os chamados jesuítas, é que receberemos de fato e diretamente a formação da pedagogia sistemática que, ainda hoje temos fortes indícios do sistema adotado pela ordem que seria: o Ratio Studiorum.

                                                                O RATIO STUDIORUM

O Ratio Studiorum é um plano de estudos introduzido no Brasil Colonial pelos jesuítas que ao longo de quase duzentos e cinqüenta anos serviu como modelo de ensino pedagógico. Iniciado principalmente na Europa, tinha suas instruções direcionadas aos mestres e alunos com extrema disciplina e rigor em aplicações das normas. Vejamos alguns pontos principais do Ratio Studiorum segundo Luzuriaga:

"Os colégios se dividem em geral em duas partes; uma de estudos inferiores, equivalente à educação secundária, outra de superiores, de caráter teológico e universitário".


É perceptível na citação que há mais de trezentos anos ainda temos essas mesmas formas no ensino contemporâneo. Em outras ocasiões os métodos usados para disciplinar os alunos de comportamentos considerados, “difíceis” nos relembra até a pouco tempo como nossas instituições de ensino ainda eram de certa forma atrelada à pedagogia jesuítica. Vejamos:

"A disciplina se baseava na emulação e na competição, fomentadas de vário modo (sic): individualmente, tendo cada aluno um êmulo com quem competir, e coletivamente, dividindo-se as classes em dois grupos rivais, com denominações próprias. Fomentava-se igualmente a emulação entre escolas, por meio de exames, certames, discussões, etc. Com isso se despertava o sentimento de competição e do amor-próprio.[1]

Com isso temos basicamente o que concorreu para o nosso sistema pedagógico. A forte influência da Igreja foi marcadamente durante muito tempo o estímulo que serviu para as universidades e colégios adotarem posturas religiosas que influenciou o meio social da sociedade em geral. Também no campo da filosofia foi a que mais esteve ligada aos assuntos de estudos nos sistemas educacionais. Podemos certificar-se do que é referido acima a partir da seguinte opinião:

"Não é novidade que o conjunto de regras para a organização de seus colégios, a Ratio Studiorum, cujo texto definitivo é de 1599, serviu gloriosamente para estabelecer no Brasil Colônia, em caráter oficial, o que e como ensinar Filosofia durante dois séculos. Também não é novidade que este mesmo fato gerou facécia no imaginário cultural brasileiro: depois da expulsão dos jesuítas e da reforma pombalina da universidade, a Filosofia no Brasil deixou de ser sem nunca ter sido.[1]

CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

Com esse roteiro exposto anteriormente, o leitor poderá perceber que de alguma forma os jesuítas foram os precursores de uma pedagogia hoje totalmente e muito ainda elitizada. Com um caráter de instrução estático e depositário de conhecimentos, o modelo pedagógico jesuítico de modo algum se aproximou do que se pretende realizar com educação, que seria: levar o indivíduo a uma verdadeira formação do ser em sua totalidade. Ainda hoje predomina muito o repasse apenas de informação em escolas que, talvez por falta de uma política pedagógica, ainda não tenha descoberto novas fronteiras de ensino. A Companhia de Jesus era marcadamente militar. Tinha sua formação com base na disciplina parecida a de um exército. Hoje ainda temos nossos alunos nas escolas de forma ainda militar até nas disposições das salas de ensino. É fácil perceber hoje como foi formada a pedagogia depois que se têm as origens de sua formação. Agora se percebe como um sistema é capaz de influenciar pedagogicamente sociedades por muito tempo. Hoje temos a tecnologia a favorecer o ensino para um novo restabelecimento da educação e repensar como podemos mudar para que a pedagogia seja de forma ativa e predominantemente formadora em sua essência de ensinar.
Iniciamos mais um milênio. Talvez este seja um tempo de mudanças para o ensino. Que lições podemos tirar do passado em relação a pedagogia? O que deve ser feito para uma verdadeira transformação na estrutura de ensino? Talvez essas indagações ainda será muito repetitiva durante muito tempo. Se no passado os homens lutavam para levar o conhecimento as populações distantes com muitas dificuldades, hoje essas dificuldades se apresentam de outras formas apesar de um mundo totalmente globalizado. Temos um aparato tecnológico a favor de qualquer pessoa que venha a ter certa pretensão a adquirir conhecimentos. Também essa mesma pessoa corre o perigo desse conhecimento ser de alguma forma instrumentalizado deixando seu caráter formador. Esse será um desafio para gerações seguintes que queiram modificar as antigas práticas pedagógicas.


[1] Luiz Alberto Cerqueira é coordenador do Centro de Filosofia Brasileira
(CEFIB) do Programa de Pós-graduação em Filosofia (PPGF)
Revista Ciência e Vida


quinta-feira, 5 de maio de 2011

A UTOPIA DO NOVO SÉCULO

          Em que realmente estamos sonhando? Qual a utopia da Era de Aquário? Parece que todos os sonhos humanos a cada dia aos poucos estão se transformando numa espécie de utopia moderna atrofiada. Diferente da Utopia do Sir Tomas More (1478-1535), estamos nos distanciando das grandes questões sobre a existência do homem e entrando na coisificação do ser. E vale mais a caçada de um Bin Laden para a satisfação de uma nação egoísta do que à procura de um Fernando Pessoa (aqui faço minha homenagem aos nossos irmão portugueses). Então não podemos mais falar da importância das grandes descobertas? No passado estava em vigência a discussão das descobertas dos grandes continentes. Mas hoje devemos fazer nossas próprias descobertas. Já dizia o filósofo citado nesse texto, "Ao receber um mal os homens costumam anotá-lo em mármore. Se é um bem que recebem, escrevem no pó". Ficaremos com tal reflexão para nos aprimorarmos nas grandes questões do ser. Quem sabe alguns de nós em algum momento seremos mais moderados antes de pensar em tais questões...