HISTÓRIA E FILOSOFIA

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DA REFLEXÃO INTUITIVA À TÉCNICA PRODUTIVA - A transformação da pedagogia no Ceará no início do século XX


"Ensinar não é uma actividade como as outras. Poucas profissões serão causa de riscos tão graves como os que os maus professores fazem correr aos alunos que lhe são confiados. Poucas profissões supõem tantas virtudes, generosidade, dedicação e, acima de tudo, talvez entusiasmo e desinteresse. Só uma política inspirada pela preocupação de atrair e de promover os melhores, esses homens e mulheres de qualidade que todos os sistemas de educação sempre celebraram, poderá fazer do ofício de educar ajuventude o que ele deveria ser: o primeiro de todos os ofícios."
(Pierre Bourdieu) 1930-2002


INFORMAÇÕES EXTRAÍDAS DO RELATÓRIO DO INTERVENTOR FEDEREAL Carneiro de Mendonça publicação de 1931 à 1934 a partir da página 69. – Da instrução Pública.
INSTRUÇÃO PÚBLICA
"Dentre as questões de mais importâncias para a minha administração, destaca-se a Instrução Pública do Estado, que ora atravessa uma fase intensa de trabalhos e progresso constante, a começar pela adaptação dos métodos de ensino às modernas tendências pedagógicas, ou melhor, aos princípios da escola ativa pregados por Fernando Azevedo, em sua magistral e consagrada reforma escolar, os quais criaram uma “consciência educacional”, infundindo no professorado um espírito novo, claro e definido.
Tem-se feito guerras sem tréguas ao empirismo educacional conseqüentemente do sistema tradicional do ensino, cujo vício principal, como disse Frota Pessoa, estava na própria estrutura da escola primária, que devia ser radicalmente modificada, pois encaminhava os alunos para os estudos superiores, quando devia educá-los na técnica das indústrias, dos ofícios, da exploração da terra, para o trabalho produtor de utilidade e riqueza.
A educação nova é, de fato, e deve ser uma iniciação na vida econômica e social, e, pelo trabalho educativo, uma iniciação no trabalho profissional e nas atividades produtoras. Ela tem, e deve despertar e desenvolver o sentido da vida econômica, o culto do trabalho, da máquina e da ciência."


Eis acima descrito como era e como deveria ser a educação nas escolas retirada a partir de moldes nacionais para o local, no caso, o Ceará. A frase taxativa e mais importante é, "devia ser radicalmente modificada, pois encaminhava os alunos para os estudos superiores, quando devia educá-los na técnica das indústrias, dos ofícios, da exploração da terra, para o trabalho produtor de utilidade e riqueza."  Diante dessas ações, o século XX encaminhou-se para um utilitarismo produtivo tendo como matéria-prima o consumo e riqueza. Hoje estamos em busca desesperada pelo controle moderado dos objetos, mas sem sucesso. 

Uma formação acadêmica voltada para a reflexão e opinião, baseada na ontologia do ser, perde seu sentido. Por outro lado, uma formação baseada na razão prática ou técnica é o catalisador da indústria cultural (ideologia do consumo) como chama os pensadores da Escola de Frankfurt. E mais e mais o homem volta a ser, de certo modo, medieval e em muitos casos ao estado de barbárie.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

FUTEBOL TV E CIRCO

"O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho".

                                  Theodor W. Adorno (1903-1969)


O Brasil é o país do futebol!
Essa é uma frase conhecida pelo menos por quase todos brasileiros. Por mais que tenha alguém  que não goste de futebol, mesmo assim isto soa como quase uma sentença. Mas de fato o que realmente isso contribui para o país? Em que aspecto positivo podemos destacar? Evidentemente que em matéria pedagógica pode ser bem trabalhado no campo da educação física, no meio social familiar ou com amigos num dia de feriado e por aí vai. Mas pensando no panorama que abrange uma sociedade ligada ao consumismo subordinada a uma cultura alienada, ou melhor, uma indústria cultural, como diziam os frankfurtianos, podemos dizer que existe um interesse de grupos que, de um lado realizam política, e do outro "amarram" essa classe futebolística (entenda isso que nem todos que gosta de futebol são pessoas alienadas), alguns são verdadeiros cães selvagens que vão a estádios com um espírito beligerante e não têm nenhum escrúpulo e respeito para quem quer realmente prestigiar uma bela partida.

Theodor Adorno, filósofo e sociólogo alemão, projetou-se como um dos críticos mais ácidos dos modernos meios de comunicação de massa


TELEVISÃO E FORMAÇÃO
Em primeiro lugar, compreendo "televisão como ideologia" simplesmente como o que pode ser verificado, sobretudo nas representações televisivas norte-americanas, cuja influência entre nós é grande, ou seja, a tentativa de incutir nas pessoas uma falsa consciência e um ocultamento da realidade.


O escutado não tem conseqüências para ele que pode apenas acenar com a cabeça para que o soltem, porém tarde demais: os companheiros, que não podem escutar, sabem apenas do perigo do canto, não da sua beleza, e deixam-no atado ao mastro para salvar a ele e a si próprios. Eles reproduzem a vida do opressor ao mesmo tempo que a sua própria vida e ele não pode mais fugir a seu papel social. Os vínculos pelos quais ele é irrevogavelmente acorrentado à práxis ao mesmo tempo guardam as sereias à distância da práxis: sua tentação é neutralizada em puro objeto de contemplação, em arte. O acorrentado assiste a um concerto escutando imóvel, como fará o público de um concerto, e seu grito apaixonado pela liberação perde-se num aplauso. Assim o prazer artístico e o trabalho manual se separam na despedida do antemundo. A epopéia já contém a teoria correta. Os bens culturais estão em exata correlação com o trabalho comandado e os dois se fundamentam na inelutável coação à dominação social sobre a natureza (ADORNO & HORKHEIMER, 1997:45).


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

SÓ OS LOUCOS SABEM

Friedrich Nietzsce (1844-1900)
Nietzsche via, portanto, o cristianismo como uma doença maligna que havia atacado o Império Romano, contribuindo para que ele sucumbisse vitimado por uma espécie de "febre das catacumbas". E, pior, "a mentalidade aristocrática foi minada até o mais profundo de si própria pela mentira da igualdade das almas; e se a crença na prerrogativa da maioria faz e fará revolução - é ao cristianismo que devemos sua difusão. São os juízos de valores cristãos que qualquer revolução vem transformar em sangue e crime. O cristianismo é uma insurreição do que rasteja contra o que tem elevação: O Evangelho dos pequenos tornado baixo".

Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje! — NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, §125.

Thomas Hobbes (1588-1679)
Em 1651, publicou sua obra-prima, o "Leviatã". Carlos I tinha sido executado e Carlos II estava exilado; por isso, no final da obra, tentou definir as situações em que seria possível legitimamente a submissão a um novo soberano. Tal capítulo valeu-lhe o desagrado do rei Carlos II e da corte inglesa.

[...] Observando que só no homem encontramos sinais ou frutos da religião, não há motivo para duvidar de qual a semente da religião se encontra apenas no homem, e consiste em alguma qualidade peculiar ou, pelo menos, em algum grau eminente desta qualidade, que nas outras criaturas vivas não se encontra. Primeiramente, é peculiar à natureza do homem investigar as causas dos eventos a que assiste, uns mais outros menos, mas o suficiente em todos os homens para terem a curiosidade de procurar as causas de sua própria boa ou má fortuna. É-lhe também peculiar, em segundo lugar, perante toda e qualquer coisa que tenha sido um começo, pensar que ela também teve uma causa, que determinou este começo no momento em que o fez, nem mais cedo nem mais tarde. [...] Quando se vê na impossibilidade de descobrir as verdadeiras causas das coisas dado que as causas da boa ou má sorte são em sua maior parte invisíveis, supõe causas para elas, quer as que lhe são sugeridas por sua própria fantasia, quer as que aceita da autoridade de outros homens, aos quais considera seus amigos e mais sábios do que ele. [...]

                                            Trecho do livro O Leviatã - Sobre a religião Cap. XII
                                                                   Thomas Hobbes.

UM COLAPSO

Coragem... Dizem que é uma virtude! Para fazer o que? Coisas boas certamente, mas também coisas ruins. Se isso não for coragem, então o que será? Esses tiveram essa coragem... Mas outros tiveram coragem de aceitar que seria dessa maneira que deveriam agir.
Holocausto é uma palavra de origem grega que significa "sacrifício pelo fogo". O significado moderno do Holocausto é o da perseguição e extermínio sistemático, apoiado pelo governo nazista, de cerca de seis milhões de judeus.
"Os judeus tinham envelhecido nesses pensamentos terrestres de que Deus amava o seu pai Abraão, a sua carne, e o que dele saísse: que por isso os multiplicara e distinguira de todos os outros povos, sem permitir que eles se misturassem com estes últimos; que, quando languesciam no Egito, de lá os retirou com todos os seus grandes sinais em seu favor; que os nutriu com o maná no deserto; que os conduziu a uma terra bastante fértil, que lhes deu reis e um templo bem construído para nele oferecerem animais, e que, por meio da efusão do seu sangue, seriam purificados; e que lhes devia enfim enviar o Messias, para torná-los senhores de todo o mundo. E predisse o tempo de sua vinda.

Os judeus estavam habituados aos grandes e brilhantes milagres; e assim, tendo tido os grandes lances do mar Vermelho e a terra de Canaã como um resumo das grandes coisas do seu Messias, esperavam coisas ainda mais brilhantes, das quais as de Moisés eram apenas amostras.

Tendo o mundo envelhecido nesses erros carnais, Jesus Cristo veio no tempo predito, mas não com o brilho esperado; e, assim, eles pensaram que fosse. Depois de sua morte, São Paulo veio ensinar aos homens que todas essas coisas tinham vindo em figuras; que o reino de Deus não consistia na carne, mas no espírito; que os inimigos dos homens não eram os babilônios, mas as suas paixões; que Deus não se achava bem nos templos feitos pela mão do homem, mas num coração puro e humilhado; que a circuncisão do corpo era inútil, mas que era necessária a do coração; que Moisés não lhes dera o pão do céu, etc.

Mas, Deus, não tendo querido descobrir essas coisas a esse povo indigno delas, e tendo querido todavia predizê-las afim de que fossem cridas, predisse claramente o seu tempo e algumas vezes as exprimiu claramente, mas abundantemente em figuras, afim de que aqueles. que amavam as coisas figurantes nelas se detivessem, e aqueles que amavam as figuras as vissem assim (Foi o que fez que ao tempo do Messias os povos fossem partilhados: os espirituais o receberam, e os carnais, que o rejeitaram, ficaram para servir de testemunhas)."

                                                                 B. Pascal - Pensamentos,III.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MELHOR SER AMADO OU TEMIDO?

"Porque dos homens se pode dizer duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando a ele chega, revoltam-se."

                                                           N. Maquiavel (1469-1527)

Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando a ele chega, revoltam-se. E perde-se aquele príncipe que por ter acreditado as suas palavras se encontra nu de qualquer outra defesa; porque as amizades que se adquirem a preço e não por grandeza ou nobreza de alma, compram-se, mas não se possuem e no momento oportuno não se podem empregar. Os homens têm menor escrúpulo em ofender um que se faz amar, do que um que se faz temer, porque o amor está unido com o vínculo da obrigação o qual, por os homens serem maus, se parte na primeira ocasião em que surja o interesse, mas o temor é sustentado pelo medo do castigo o qual nunca se perde. Deve, todavia, o príncipe fazer-se temer de modo que, se não adquire amizade, evite ser odiado, porque pode muito bem ser ao mesmo tempo temido e não odiado; o que sempre conseguirá desde que respeite os bens dos seus concidadãos e dos seus súbditos e a honra das suas mulheres; e quando se veja obrigado a proceder contra o sangue dalgum, não o fará sem justificação conveniente e causa manifesta; mas sobretudo não tocar na propriedade alheia, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do património. E depois, não faltam nunca motivos para apoderar-se do alheio e sempre aquele que começa a viver da rapina encontra razões para apoderar-se do que é dos outros, ao passo que as ocasiões de fazer correr sangue são mais raras e faltam mais amiúde.

Trecho do livro "O Príncipe" Cap. XVII -  N. Maquiavel


Concordo principalmente onde Maquiavel diz " os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do patrimônio". Seu pensamento é muito realista e sempre afirma como as coisas são, e não como deveriam ser, contudo ninguém quer ouvir a realidade, é melhor falar o que os outros quererem ouvir do que dizer a verdade mesmo que ninguém goste. Aliás, ninguém pode ser verdadeiro em todo momento... Somos, se quisermos ser, acondicionados a viver de maneira regrada por convenções. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O TEMPO - ENTRE TER E ADMINISTRAR


O HOMEM É O ÚNICO ANIMAL A TER NOÇÃO DE TEMPO E AO MESMO TEMPO SER ESCRAVO DE SUA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA CRONOLÓGICA
Dizem que a invenção do relógio, além de poder programar melhor nosso tempo, não foi um mero ato de necessidade, e sim um início de sujeição para o próprio homem. Para entender melhor, devemos como ponto de partida, nos remeter à meados do século XVIII, ou mais precisamente no século XIX quando todo processo industrial se espalhou pelo mundo e tomou a forma de estruturas padronizadas de máquinas, processos e principalmente tempo. Pois bem, se por um lado o progresso trouxe conforto, segurança, longevidade e outros fatores de bem-estar, por outro, a qualidade de vida ainda é questionável. Foi principalmente com o advento da luz elétrica, e  a maneira como o homem passou a utilizá-la, que esta começou a interferir no meio em que ele vive. A indústria passou a tomar para si, parte da noite e mais trabalhadores eram necessários para atingir uma produção que crescia à medida que se consumia.


Aristóteles, na Física, colocava alguns problemas à existência do tempo. Para ele, o tempo não poderia existir, já que nenhuma das suas partes existe. O instante presente, por não ter duração precisa, o passado já aconteceu e o futuro ainda não é.

Somos programados cronológicamente para tudo. Na saúde, um minuto nos separa da morte. No trabalho um minuto pode comprometer nossa reputação profissional. No trânsito um minuto pode custar uma vida. No relacionamento uma hora pode causar descontentamento, e assim por diante. A hora é sacralizada: a hora do futebol, da novela, filme, programa, etc.  E mais, tempo é dinheiro. Essa junção de obtenção do capital aliada ao tempo é a condição favorável para um homem destituído de sentido. Como afirma o filósofo Chesterton "Outrora, havia o homem perdido o seu caminho - hoje, porém, ele perdeu seu próprio endereço".





domingo, 2 de outubro de 2011

FORQUILHENSE EX-COMBATENTE DA II GUERRA MUNDIAL TEM SUA HISTÓRIA DOCUMENTADA 66 ANOS DEPOIS DO MAIOR CONFLITO ARMADO DO SÉCULO XX



Nascido na comunidade de Várzea da Cobra hoje pertencente ao município de Forquilha-ce em 21 de Junho de 1913, filho de Francisco Rodrigues Lopes e Joaquina Sousa Lopes, o Sr. Félix Rodrigues Lopes, hoje com seus 98 anos de idade, é uma personagem histórica viva no município de Forquilha e que foi participante efetivo de um dos maiores conflitos armados do século XIX, a Segunda Guerra Mundial. Uma guerra que deixou um saldo de 60 milhões de vítimas onde toda Europa ficou marcada por um banho de sangue entre nações do mundo inteiro.

Com o Brasil não foi diferente, mesmo com todo esforço do então presidente Getúlio Vargas de não envolver o Brasil no conflito foi em 1942 após um ataque contra navios brasileiros pelos  alemães que o presidente não teve alternativa, e em 22 de agosto do mesmo ano Vargas reúne-se com seu novo ministério:” diante da comprovação dos atos de guerra contra a nossa soberania, foi reconhecida a situação de beligerância entre o Brasil e as nações agressoras - Alemanha e Itália". Em 31 de agosto de 1942 foi declarado o estado de guerra em todo o território nacional. No dia 6 de Abril de 1943 foi criado pelo governo federal o SEMTA (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para Amazônia), daí em diante seguiu-se o recrutamento dos chamados Soldados da Borracha (soldados alistados com objetivo de extração da borracha para os EUA).

Em carrocerias de caminhões, em vagões de trem de carga, na terceira classe de um navio até o Amazonas. A viagem dos arigós era difícil. De Fortaleza até o seringal, por exemplo, podia demorar mais de três meses. Pior que o desconforto, só o perigo de ir a pique no meio do mar. Afinal, em tempos de guerra, era comum a notícia de ataques de submarinos alemães. Para prevenir, os soldados da borracha recebiam instruções e um colete salva-vidas. Em caso de naufrágio, nos bolsos internos, havia uma pequena provisão de bolacha e água. Em caso de captura pelo exército inimigo, uma pílula de cianureto. Era escolher entre o suicídio e a prisão inimiga.

Naquele mesmo ano o forquilhense Sr. Félix Rodrigues com 30 anos de idade saiu de sua localidade para fazer seu recrutamento na cidade de Sobral de onde sairia a primeira leva de Soldados da Borracha. Hoje com seus 98 anos de idade e com deficiência para ouvir, mostra-se, contudo altivo e tem em sua voz o linguajar típico de quem conservou experiências contando sua epopéia que durou três longos anos na Amazônia brasileira. Basta-lhe uma pergunta sobre sua viajem que logo se prontifica a responder e não deseja ser interrompido finalizando cada fala com um enfático “tá entendendo?”. Perguntado sobre seu alistamento responde: “fiz isso escondido de minha mãe e só contei para meu irmão que falou que eu estava doido. Na hora, quem se alistasse podia escolher ir combater na Itália, mas eu não queria, pois, iria ter que matar ou morrer”“saímos de Sobral depois Teresina, Maranhão, Belém e de lá embarcamos num navio cargueiro chamado Cuiabá até Manaus de onde fomos levados para os acampamentos num lugar chamado Boca do Acre chegando próximo a fronteira da Bolívia.”, Perguntado sobre armas responde: “Recebemos um rifle, espingarda e um facão.” Seu Félix é um homem que demonstra simplicidade e preza muito pela verdade por isso ao concluir uma de suas histórias afirma antes de ser questionado com uma frase estranha “isso não é história de onça não!” Percebe-se nesse homem uma grandeza de coragem e espírito aventureiro, pois, mesmo a contra gosto de familiares e principalmente de sua saudosa mãe, partiu de sua terra natal para um mundo totalmente desconhecido em que poucos retornariam e principalmente de se encontrar ainda vivo contando e fazendo história sendo uma personagem no município de Forquilha que fez parte no cenário da Segunda Guerra Mundial.

Pós-guerra o navio CUYABÁ passou a servir os portos da imensa costa do Brasil, não mais voltando a escalar Lisboa e Leixões; 1960 o nome foi alterado para CUIABÁ; 1963 vendido a sucateiros algures em qualquer porto brasileiro.

Foi prometido aos Soldados da Borracha que ao terminar a guerra estes retornariam à sua pátria, na prática muitos morreram de malária ou por não se adaptarem ao modo de vida na selva. No ano de 1945 termina a Segunda Guerra Mundial e seu Félix Rodrigues retorna à sua localidade um ano depois, e em 1947 casa-se. Um casamento típico da época em que o noivo sairia de sua residência na Caiçara a pé para o rito matrimonial na igreja Matriz de Forquilha. Os tempos passaram e 66 anos depois da guerra ainda são poucos os protagonista de um dos mais sangrentos conflitos armados que marcaram o século XX. A cidade de Forquilha tem na pessoa de seu Felix Rodrigues um olhar especial, pois, ele faz história e sua atitude de ter saído de sua terra para ir a um lugar desconhecido em tempos de guerra (e sua maior proeza ainda é de estar vivo contando sua história) faz dele um arquivo vivo dos fatos históricos. Sendo assim, num futuro próximo quem sabe nos meios pedagógicos de nosso município venha a ser este registro algo útil para servir de estudos para a posteridade contribuindo para uma reflexão do homem em seu tempo.
Por:
Jander Lopes de Souza (Acadêmico de Filosofia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA)
Célio Cavalcante (Guardião da Arqueologia Cearense)