Um dos mais importantes filósofos alemães do século XX, nasceu em Gummersbach, a 18 de Junho de 1929. Fez cursos de filosofia, história e literatura, interessou-se pela psicologia e economia (Universidades de de Gotingen- com Nicolai Harttman-, de Zurique e de Bona). Em 1954 doutorou-se em filosofia na universidade de Bona. Estudou com Adorno e foi assistente no Instituto de Investigação Social de Frankfurt am Main (1956-1959). Em 1961 obtém licença para ensinar (Universidade de Marburg) e, em seguida, é nomeado professor extraordinário de filosofia da Universidade de Heidelberg (1961-1964), onde ensinava Hans Geor Gadamer. Foi nomeado depois professor titular de filosofia e sociologia da Universidade de Frankfurt am Main (1964-1971). Desde 1971 é co-director do Instituto Max Plank para a Investigação das Condições de Vida do Mundo Técnico-Científico, em Starnberg.
Habermas foi durante os anos 60 um dos principais teóricos e depois crítico do movimento estudantil. É considerado um dos últimos representantes da escola de Frankfurt.
O que significa dizer que a filosofia converge para uma teoria da
racionalidade procedimentalista?
Uma
autocompreensão não-fundamentalista desobriga a filosofia de
tarefas com as quais ela se via sobrecarregada, fornecendo-lhe uma
nova autoconfiança no relacionamento cooperativo com as ciências
que procedem reconstrutivamente. Segundo Habermas, uma filosofia sem
pretensão fundamentalista e com consciência falibilista, entra em
cooperação com as ciências, não se isolando numa esfera
particular de dominação.
Como Habermas estabelece a relação entre filosofia e
ciência? Qual a tarefa da primeira?
Numa relação íntima com as ciências e com o senso comum, a
filosofia pode, por exemplo, criticar a colonização de um mundo da
vida que é esvaziado pelas intervenções da ciência, da técnica,
do mercado e do capital.
Qual o contexto histórico filosófico a partir do qual a
teoria da Ação Comunicativa realiza suas reflexões?
A racionalidade moderna enfrenta os desafios contemporâneos da
multiplicidade de formas de vida diferenciadas, bem como a disputa
entre diferentes teorias. Para Habermas, com o advento da
modernidade, as religiões precisam abrir mão do caráter dogmático
de aceitação de suas doutrinas, a fim de coexistirem em um mundo de
diferentes visões de vida: “Com a passagem para o pluralismo
ideológico nas sociedades modernas, a religião e o ethos nela
enraizado se decompõem enquanto fundamento público de validação
de uma moral partilhada por todos.” (HABERMAS, 2002b, p.19).
Qual a diferença entre agir estratégico e o agir
comunicativo.
No agir estratégico o sujeito solitário atua objetivando um fim
particular, no agir comunicativo, ao contrário, o sujeito é
motivado pelo outro para uma função conjunta que diz respeito a
ambas as partes. Se o agir estratégico orienta uma ação do ponto
de vista particularista, o agir comunicativo busca ações que se
fundamentam à luz dos atos da fala, tendo o outro como momento
fundamental para a racionalidade das normas.
Como são os dois níveis de ação comunicativa: o nível
da ação ordinária e o nível do discurso.
No nível da ação ordinária, as pretensões de validade não
são problematizadas, e o nível da problematização reflexiva, do
discurso, no qual as pretensões de validade levantadas na práxis
comunicativa ordinária são postas num debate crítico e
argumentativo.
Como Habermas reformula o Imperativo Categórico de Kant
por meio do princípio ético discursivo?
Ao invés de prescrever a todos como válida uma máxima que eu
quero que seja uma lei universal, tenho que agora apresentar minha
máxima a todos os demais para o exame discursivo. O peso coloca-se
daquilo que cada indivíduo isolado quer como lei universal, para
aquilo que todos querem de comum acordo reconhecer como norma
universal: o processo de universalização não se dá mais no
interior de uma consciência transcendental, e sim dialogicamente por
meio dos sujeitos.
Em que sentido Habermas afirma que a racionalidade
imanente e prática comunicativa é uma racionalidade mais ampla?
O conceito de ação comunicativa refere-se à interação de pelo
menos dois sujeitos capazes de linguagem, em que estes buscam se
entender sobre uma situação, coordenando planos de ação de comum
acordo.
Qual a diferença entre Ação Comunicativa, Ação
Estratégica e Instrumental?
O agir comunicativo distingui-se, pois, do estratégico, uma vez
que a coordenação bem sucedida da ação não está apoiada na
racionalidade teleológica dos planos individuais de ação, mas na
força racionalmente motivadora de atos de entendimento, portanto,
numa racionalidade que se manifesta nas condições requeridas para
um acordo obtido comunicativamente. A ação instrumental e a
estratégica só se diferenciam pelo fato de que, na primeira, o
sujeito lida não diretamente com o outro sujeito, mas com as coisas.
Ao passo que, na segunda, o sujeito busca influenciar o outro sujeito
para que realize atos necessários para a obtenção do seu fim.
Como Habermas contesta o positivismo e o relativismo
ético?
Habermas, como herdeiro da Escola de Frankfurt, não pode “cair”
no positivismo e defender uma racionalidade no sentido de simples
adequação às normas.
Como Habermas interpreta a importância da linguagem no
âmbito de sua teoria da Ação Comunicativa e no conceito de razão
destranscendentalizada?
A teoria da ação comunicativa destranscendentaliza o reino do
inteligível ou, como o próprio Habermas destaca, faz com que as
questões caiam do céu transcendental em direção ao chão do mundo
da vida, através dos pressupostos pragmáticos inevitáveis dos atos
de fala.
Em que sentido fala de um transcendental fraco no agir
comunicativo?
O que Habermas combate é a ideia de que o transcendental possa se
autofundamentar como filosofia primeira, independentemente do
empírico, porque haveria nisso, segundo ele, o risco de cairmos
novamente numa filosofia da consciência. É por isso que Habermas
fala de um transcendentalismo fraco no agir comunicativo.
Por que para Habermas a linguagem como medium
intransponível de todo sentido, de toda reflexão teórica e
prática, forçou um repensamento de todos os problemas filosóficos?
A guinada linguística possui vários motivos, dentre os quais a
convicção de que a linguagem forma o meio para as encarnações
culturais e históricas do espírito humano e que uma análise
metodicamente confiável da atividade do espírito não deve começar
pelos fenômenos da consciência, e sim pelas expressões
linguísticas.
Como a linguagem é condição de possibilidade de todos
os sentidos e validade das proposições é condição fundamental do
próprio pensar?
É preciso observar se a linguagem é utilizada apenas como meio
para a transmissão de informação ou se, ao contrário, como fonte
de integração social. No primeiro caso, trata-se da linguagem
tão-somente no sentido do agir estratégico, pois os atos de fala
perdem o papel de coordenação da ação em favor de influências
externas à linguagem, como o dinheiro e o poder; no segundo caso,
trata-se da linguagem na perspectiva do agir comunicativo, em que a
força consensual do entendimento linguístico torna-se fundamental
para a coordenação das ações.
Em que sentido ocorre a colonização do mundo vivido
pelos imperativos funcionais ou subsistemas de ação instrumental?
O mundo da vida oferece uma provisão de obviedades culturais,
lugar onde os participantes da comunicação tiram seus esforços de
interpretação os modelos de exegese consentidos.
Em que sentido Habermas afirma que a modernidade é um
projeto inacabado?
A questão principal posta é a predominância atual da
racionalidade instrumental, em contraposição à racionalidade
comunicativa. Isto faz com que Habermas argumente que a modernidade é
ainda um projeto inacabado, que não se efetivou por completo, pois a
razão comunicativa está “bloqueada” pelos imperativos
sistêmicos, não sendo coerente falarmos que p problema seja a razão
enquanto tal e proclamarmos seu fim ou sua despedida.
Em que sentido é correto afirmar que Habermas não
elimina a racionalidade instrumental?