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"Os homens só consideram útil o que oferece dificuldade. A facilidade enche-os de suspeitas." (Michel de Montaigne) |
No
seu livro “Eclipse
da Razão”
publicado em 1955, Horkheimer define mais amplamente o conceito
racionalidade instrumental. Ele distingue duas formas de razão: a
razão subjetiva (interior) e razão objetiva (exterior).
Em 1947 Max Horkheimer (1895-1973), realizou cinco palestras públicas na universidade de Colúmbia onde esta veio a se tornar o material de publicação de sua obra Eclipse of Reason (Eclípse da Razão). Essa obra, onde o próprio Horkheimer com sua característica crítica da Escola de Frakfurt, faz profundas indagações e críticas à razão. Poderíamos considerá-la como uma revelação sistemática de comportamentos que iriam se insurgiram ao longo da segunda metade do século XX.
Esses acontecimentos se deram principalmente nos campos sociais de um modo geral como também nas esferas de atuação humana como na religião, por exemplo. Muitas guerras e conflitos ideológicos transformaram o comportamento do homem contemporâneo. Para citar algumas das guerras mais sangrentas - a guerra do Vietnã (1975) - que deixou dois países destruídos e que teve severas consequências para os norte-americanos.
No campo da economia podemos citar os dois sistemas de maior força nesse período: o socialismo e o capitalismo. Estes, simbolizados pelo muro de Berlim durante o período da Guerra Fria. Um dos resquícios desses fatos, lembremos a Revolução Cubana em 1959.
No campo da religião temos um dos maiores acontecimentos depois de quase 90 anos desde o último concílio da Igreja Católica em 1870 (Concílio Vaticano I). Talvez o concílio que mais houve transformações depois do Concílio de Trento (1545) foi o realizado em 1962 no Concílio Vaticano II. A Igreja no pós guerra, teve rever sua maneira de aproximar-se dos fiéis e promover transformações em suas liturgias eclesiais.
Por tanto, durante toda Guerra Fria os acontecimentos formarão após a queda do Muro de Berlin, o cenário para novas formas de agir e pensar. Não mais com uma razão fundada para uma perspectiva humana, mas para promover o homem e sua interação no mundo tecnológico e cintífico. Os frankfurtianos e principalmente Horkheimer, colocam em análise a questão da Razão. Horkheimer caracteriza a Razão em subjetiva e objetiva, sendo que a primeira refere-se à tendências de reduzir tudo a resultados imediatos, números, mensuração ou, de uma maneira até pragmática, qual a utilidade disto ou daquilo? Enquanto a outra, serve ao homem como uma auto crítiza uma autoanálise para uma reflexão de seus comportamentos e atitudes. Daí em diante, o filósofo "sentencia" o mundo no qual ele percebe onde a Razão, agora instrumentalizada, perde o sentido para que dela o homem possa viver de acordo com suas próprias opiniões sem se deixar levar por ideologias onde, no pós-guerra, causaram todo tipo de males na humanidade.
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Horkheimer, foi um dos mais notávele respeitado historiador da escola de Frankfurt. Fez criticas ao marco fundamental da modernidade, o racionalismo de Descartes. As criticas de Horkheimer, dirigiram-se à constatação de que o pensamento nascido com Descartes e,posteriormente, transformado num dos princípios fundamentais da ciência moderna, ao privilegiar sem nenhum restrição uma racionalidade abstrata e voltada para a dominação da natureza, colocava o pensamento e a especulação filosófica numa via de crescente degradação: a razão transformou-se num mero instrumento de dominação, perdendo sua força esclarecedora e seu poder libertador. |
A
razão subjetiva (instrumental) é a faculdade que torna possível as
nossas ações. É a faculdade de classificação, inferência e
dedução, ou seja, é a faculdade que possibilita o “funcionamento
abstrato do mecanismo de pensamento”. (Horkheimer, 1974, p. 11).
Essa razão se relaciona com os meios e fins. Ele é neutra, formal,
abstrata, e lógico-matemática. “A razão subjetiva se revela como
a capacidade de calcular probabilidades e desse modo coordenar os
meios corretos com um fim determinado” (Horkheimer,1974, p. 13).
Por
sua vez, a razão objetiva (Logos), conhecida desde a época clássica
da história da Grécia, era considerada o principal conceito da
filosofia. A razão não é somente uma faculdade mental, mas é
também do mundo objetivo. Existe uma ordem, uma harmonia por trás
do mundo, uma racionalidade objetiva. A razão se manifesta nas
relações entre os seres humanos, na organização da sociedade, em
suas instituições, na natureza e no cosmo. As teorias de Platão,
Aristóteles, o escolasticismo e o idealismo alemão se fundamentam
sobre uma teoria objetiva da razão.
Durante
a evolução do conhecimento a faculdade subjetiva do pensar foi
tomando o lugar da razão objetiva. A faculdade subjetiva de pensar
foi o instrumento crítico que dissolveu os conceitos da mitologia e
da filosofia (razão objetiva) como mera superstição. A luta da
razão subjetiva contra a mitologia e a filosofia, ao denunciá-las
como falsa objetividade, teve que usar conceitos que reconheceu como
válidos, como a lógica formal e a matemática. O resultado disso
foi que nenhuma realidade particular pode ser vista como racional. A
razão na busca de uma objetividade cada vez maior se formalizou. Em
sua formalização a razão foi transformando o pensamento em um
simples instrumento.
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ARTIGO:
A POSSIBILIDADE DE UMA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL EM
HORKHEIMER: DA
TEORIA CRÍTICA À CRITICA DA RAZÃO
INSTRUMENTAL
(Nathalia
Guimarães)
A
razão deveria ser tratada como autopreservação, mas o interesse
particular, motivado à luz de uma razão subjetiva deslocou o homem
do seu ser
social. A autopreservação que deveria ser o ato de
preservar a espécie e,
portanto, a humanidade, ganha uma
dimensão dominadora já que
autopreservação tornou-se
sinônimo de lucro e, portanto de exploração da
humanidade.
Nesse
capítulo apresentar-se-á a crise da Razão como chave de
interpretação da teoria crítica de Max Horkheimer. Ao
fazer isso,
automaticamente se coloca em xeque o conceito de
autonomia. Horkheimer
mostra que a razão reduzida ao domínio
técnico não garante a emancipação.