HISTÓRIA E FILOSOFIA

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SAIBA QUEM FORAM OS SANTOS INOCENTES?


Dia dos Santos Inocentes é uma celebração cristã em homenagem aos Santos Inocentes, os meninos assassinados no evento bíblico que ficou conhecido como Massacre dos Inocentes, relatado em Mateus 2:16-18, festejada entre os dias 27 e 29 de dezembro, dependendo dadenominação cristã.

Somente a monstruosidade de uma mente assassina, cruel e desumana, poderia conceber o plano executado pelo sanguinário rei Herodes: eliminar todas os meninos nascidos no mesmo período do nascimento de Jesus para evitar que vivesse o rei dos judeus. Pois foi isso que esse tirano arquitetou e fez. 



Impossível calcular o número de crianças arrancadas dos braços maternos e depois trucidadas. Todos esses pequeninos se tornaram os "santos inocentes", cultuados e venerados pelo Povo de Deus. Eles tiveram seu sangue derramado em nome de Cristo, sem nem mesmo poderem "confessar" sua crença. 

Quem narrou para a história foi o apóstolo Mateus, em seu Evangelho. Os reis magos procuraram Herodes, perguntando onde poderiam encontrar o recém-nascido rei dos judeus para saudá-lo. O rei consultou, então, os sacerdotes e sábios do reino, obtendo a resposta de que ele teria nascido em Belém de Judá, Palestina. 


Herodes, fingindo apoiar os magos em sua missão, pediu-lhes que, depois de encontrarem o "tal rei dos judeus", voltassem e lhe dessem notícias confirmando o fato e o local onde poderia ser encontrado, pois "também queria adorá-lo". 

Claro que os reis do Oriente não traíram Jesus. Depois de visitá-lo na manjedoura, um anjo os visitou em sonho avisando que o Menino-Deus corria perigo de vida e que deveriam voltar para suas terras por outro caminho. O encontro com o rei Herodes devia ser evitado. 

Eles ouviram e obedeceram. Mas o tirano, ao perceber que havia sido enganado, decretou a morte de todos os meninos com menos de dois anos de idade nascidos na região. O decreto foi executado à risca pelos soldados do seu exército. 

A festa aos Santos Inocentes acontece desde o século IV. O culto foi confirmado pelo papa Pio V, agora santo, para marcar o cumprimento de uma das mais antigas profecias, revelada pelo profeta Jeremias: a de que "Raquel choraria a morte de seus filhos" quando o Messias chegasse. 

Esses pequeninos inocentes de tenra idade, de alma pura, escreveram a primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos e mereceram a glória eterna, segundo a promessa de Jesus. A Igreja preferiu indicar a festa dos Santos Inocentes para o dia 28 de dezembro por ser uma data próxima à Natividade de Jesus, uma vez que tudo aconteceu após a visita dos reis magos. A escolha foi proposital, pois quis que os Santinhos Inocentes alegrassem, com sua presença, a manjedoura do Menino Jesus.


http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=santo%20do%20dia%2029%20de%20dezembro&source=web&cd=4&ved=0CDcQFjAD&url=http%3A%2F%2Fwww.paulinas.org.br%2Fdiafeliz%2Fsanto.aspx&ei=LR76TsLAOYrxggew9cifAg&usg=AFQjCNF5yPhtdDOpmR4JLuB5pBf73PeYlA

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

É POSSÍVEL UM CONHECIMENTO VERDADEIRO?


"O truque da filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda."

Bertrand Russell

Não é possível o homem procurar o que já sabe, nem o que não sabe, porque não necessita procurar aquilo que sabe, e,quanto ao que não sabe, não podia procurá­lo, visto não saber sequer o que havia de procurar.”(Mênon, 81)


Com a seguinte passagem acima podemos perceber quão grande era o interesse pelo saber verdadeiro, e que até aos dias de hoje tal pergunta repercute como uma dissonância interminável de uma pergunta mais que milenar. É bem provável que na busca pela resposta, os antigos viram-se numa das maiores aporias já registradas pelos filósofos desde a antiguidade e que pelo caminho percorrido tal questionamento, muitos talvez, tenham abandonado tal empreendimento. Nesse sentido, podemos afirmar que as bases para uma longa trajetória de debates estava posta. Tão longa que levaria até um dos mais sistemático dos filósofos do período moderno, a criar artifícios ou métodos que podiam validar tal conhecimento. Immanuel Kant (1724-1804), em sua tabela de categorias, tentou de certa forma decodificar ou “estruturar” outras categorias já há muito estabelecidas por outros filósofos que tentaram dar uma solução satisfatória para o problema do conhecimento verdadeiro. Com isso, podemos afirmar que os métodos nem sempre foram específicos em suas estruturas lógicas para poderem dar uma solução autêntica sobre a pergunta: como podemos validar o conhecimento verdadeiro?

Podemos conhecer pelo método? Qual o melhor caminho (méthodos)?

Com a antiguidade tínhamos no questionamento uma procura do saber verdadeiro. Na modernidade era necessário estabelecer critério de como fazer para que tal conhecimento pudesse por si só adquirir validade. Então surge diante dos métodos, o questionamento do próprio método. Qual método poderia dar conta de tal epistemologia? E afinal o que é método? A palavra método vem do grego, methodos, composta de meta: através de, por meio, e de hodos: via, caminho. Servir-se de um método é, antes de tudo, tentar ordenar o trajeto através do qual se possa alcançar os objetivos projetados. Em poucas palavras, o melhor método não foi tomado como parâmetro para a pesquisa pois, nenhum deles conseguiram solucionar tão grande aporia.

"Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir."

Descartes


O racionalismo cartesiano. A dúvida é o melhor método?

Mas pelo que se sabe é que antes mesmo dos métodos, surgiram teorias dissidentes dentre os filósofos da modernidade no que diz respeito às formas ou sistemas epistemológicos, por exemplo, o ceticismo ganhou muita força e com os empiristas David Hume (1711-1776) e Jonh Locke (1632-1704) levou outros ao extremo do racionalismo como Descartes (1596-1650) que através da dúvida metódica cria um estratagema para se chegar a uma verdade indubitável. Para ele a verdade deve ser distinta e clara. Na obra Regras para a direção do espírito e é composta por 21 proposições (regras) e permaneceu incompleta. Sua proposta é que seu método se aplica a tudo (Regra I), implicando em um completar da ciência (Regra VII). Nesta obra o método é a base da proposta cartesiana. É através dele que chegamos a verdade. Nas afirmações cartesianas, nosso conhecimento ocorre na apreensão da “substância”, ou seja, daquilo que não precisa de nada mais que a si mesmo para existir, constituindo a essência das coisas (racionalismo). A proposta cartesiana é a primeira a por o sujeito como base da epistemologia. A subjetividade moderna inicia-se com o “penso, logo existo”.

"O hábito... é o grande guia da vida humana."

David Hume


David Hume e seu método indutivo. “O pensamento mais vivo é sempre inferior a sensação mais embaraçada”.

Com Hume o empirismo é marcado pelo método indutivo. Apóia-se em um “realismo”. A verdade está nas coisas experienciadas pelo sujeito. Com isso Hume propões o seguinte problema: a indução é a única forma de conhecimento, no entanto não garante verdade absoluta. Tudo é hábito. Para o empirista o conhecimento deriva da sensação ou experiência, e só posteriormente são interpretados os dados empíricos pela razão. Os empiristas criticam diretamente: as ideias inatas, a noção de substância e a autonomia epistemológica do sujeito (eu). Só conhecemos pela sensação e por ela chegamos a conhecimentos possíveis, mas não verossímeis. Tudo deriva da relação de causa e efeito: a partir das impressões somos induzidos a conjeturar nosso conhecimento. As ideias derivam das seguintes conjeturas: semelhança, contiguidade e causalidade.

"Todo o conhecimento humano começou com intuições, passou daí aos conceitos e terminou com ideias."

Kant


O criticismo kantiano. A Crítica da Razão Pura propõe uma análise das “condições de possibilidade” do conhecimento.





A proposta kantiana é a de uma fundamentação da ciência, e representa as bases do conhecimento. Seu sistema resume-se a quatro questões:
a-      O que posso conhecer?
b-      O que devo fazer?
c-      O que posso esperar?
d-     Afinal, o que é o homem?
Kant busca estabelecer as condições de possibilidade do conhecimento (condições transcendentais). Para o filósofo os juízos que emitimos sobre a realidade são baseados nos “fenômenos”, pois as “coisas em si mesmas” nos são inacessíveis. Somente conhecemos o que está no tempo e no espaço. Nossos juízos podem ser de duas ordens: juízos analíticos, onde o predicado está contido no sujeito e juízos sintéticos onde o predicado é uma extensão do sujeito.
Para Kant apenas conhecemos por meio dos fenômenos, logo as coisas são como nos aparecem, sendo o homem o doador de sentido à realidade. Mas como isso é possível? Esse é o grande problema a ser resolvido. Para resolver o problema, Kant estabelece um quadro de categorias pelas quais “lemos” a realidade, eis a análise da “Razão Pura”.

Como vimos diante das exposições, o conhecimento desde a antiguidade apresentou-se como um problema a ser resolvido diante do próprio saber filosófico. Afinal, quando o homem começou a questionar a posição ou formas dos objetos externos, também teve consequentemente que pensar conceitos subjetivos como a justiça, o bem, ou o próprio ser. Mais adiante o questionamento sobre o verdadeiro conhecimento para ser validado, teria que ter respaldo de um método que ratificasse o verdadeiro conhecimento. Nas colocações dos filósofos, observa-se que cada ponderação em sua estrutura de cada método, há pontos que não podem sustentar que ele mesmo possa validar o conhecimento. Tenho como o mais próximo de resolver a questão o método kantiano já que este se utiliza de uma estrutura complexa que envolve sentidos abstratos. Mas é necessário ressaltar que o pensamento humano jamais pode dar conta da realidade. Por isso é necessário afirmar que o método kantiano encontra-se longe de tal resolução completa, mas pode muito oferecer sentido para que possamos realizar uma reflexão lógica.
A cada momento a ciência avança com suas estruturas de pesquisas e que sempre oferecerá ao homem uma melhor compreensão das causas dos fenômenos. Diante disso, sempre haverá uma investigação mais apurada daquilo que entendemos como o conhecimento definitivo dos fenômenos. Então serão apresentados novos métodos, não para a ciência, mas para o próprio conhecimento filosófico. A complexidade é sempre no campo da abstração. Essa dificuldade se dar pelo fato de não termos um parâmetro de investigação, ou seja, não podemos mensurar o abstrato. Nesse sentido, questões sobre Deus, o Ser e a justiça sempre será conceitos questionáveis onde, no caso do método kantiano, pode dar uma pequena contribuição para o entendimento. Mas sempre não dará conta de todos os conceitos abstratos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

EM POUCAS PALAVRAS O QUE ELES PENSAVAM SOBRE DEUS?

ADVERTÊNCIA DO AUTOR DESTE BLOG




A vastidão de teorias que se têm sobre o conceito de Deus em toda história da humanidade desde o pensamento dos primeiros homens até aos dias de hoje, é infinitamente vasta e inesgotável seu conteúdo. A simples publicação de uma pequena frase de um só pensador, daria grossos volumes de livros e teses que jamais daria conta de toda a questão. Nesse sentido, aqui temos apenas uma ínfima parte para uma reflexão daquilo que podemos conceber por ser o assunto de grandeza como um oceano de pensamentos dos mais variáveis sobre Deus. Certamente que ao fim da postagem, muitos perguntarão o por que não citar outros que tiveram sua relevância desde os antigos como Sócrates, Platão e Aristóteles passando pelos medievais como Santo Agostinho, Boécio, Santo Tomás de Aquino seguindo pelos modernos como locke, Hume, Rousseau, Berkeley, Kant até aos contemporânes como Kierkegaard, Schopenhauer, Wittgenstein, Heiddeger etc. Isto se deve ao fato citado anteriormente: não se pode dar conta de tal questão (Deus) até mesmo pelo fato da complexidade de sua abstração ser inatingível.


Evidentemente que ao publicar pensamentos de filósofos sobre crenças, valores, costumes, etc, o autor deste blog não toma nenhuma posição contra ou a favor de qualquer que seja a visão de cada autor. Com isso, não pretendo tomar como certo ou errado qualquer que seja uma linha filosófica ficando apenas para o próprio leitor fazer suas análises e com isso tirar suas conclusões contra ou a favor de tais questões. Cabe ao conteúdo cultural de cada um ponderar sobre questões conceituais que se limitam à especulação. O próprio autor do HRHT (HISTÓRIA: O RETRATO DO HOMEM NO TEMPO), tem suas colocações e opiniões sobre tais questões mas de forma alguma pretende impor qualquer que seja suas considerações pessoais, ficando assim a cargo dos próprios visitantes tomarem ou não suas posições filosóficas ou religiosas. Deixo-vos o seguinte trecho da obra Pensamentos de Michel de Montaigne:

A ignorância sábia

"Aconteceu aos verdadeiros sábios o que se verifica com as espigas de trigo, que se erguem orgulhosamente enquanto vazias e, quando se enchem e amadurece o grão, se inclinam e dobram humildemente. Assim esses homens, depois de tudo terem experimentado, sondado e nada haverem encontrado nesse amontoado considerável de coisas tão diversas, renunciaram à sua presunção e reconheceram a sua insignificância. (...) Quando perguntaram ao homem mais sábio que já existiu o que ele sabia, ele respondeu que a única coisa que sabia era que nada sabia. A sua resposta confirma o que se diz, ou seja, que a mais vasta parcela do que sabemos é menor que a mais diminuta parcela do que ignoramos. Em outras palavras, aquilo que pensamos saber é parte — e parte ínfima — da nossa ignorância."

                                                                                                                     Michel de Montaigne (1533-1592)

Robert Schuller, um maçom de Grau 33, é o homem que assumiu o manto de Norman Vincent Peale (também um maçom de Grau 33), o originador do evangelho da auto-estima. O igualmente famoso Norman Vincent Peale foi pastor da Igreja Marble Collegiate, na cidade de Nova York, até 1984.
Robert Schuller (1926 -     )


"Qualquer um pode contar as sementes em uma maçã, mas só Deus pode contar o número de maçãs em uma semente."
( Robert H. Schuller ) 

Segundo Nietzsche, o cristianismo concebe o mundo terrestre como um vale de lágrimas, em oposição ao mundo da felicidade eterna do além. Essa concepção constitui uma metafísica que, à luz das idéias do outro mundo, autêntico e verdadeiro, entende o terrestre, o sensível, o corpo, como o provisório, o inautêntico e o aparente. Trata-se, portanto, diz Nietzsche, de "um platonismo para o povo", de uma vulgarização da metafísica, que é preciso desmistificar. O cristianismo, continua Nietzsche, é a forma acabada da perversão dos instintos que caracteriza o platonismo, repousando em dogmas e crenças que permitem à consciência fraca e escava escapar à vida, à dor e à luta, e impondo a resignação e a renúncia como virtudes.
Friedrich Nietzsche (1844-1900)

"O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança. "
( Friedrich Nietzsche ) 

"Quando, em 1921, perguntado pelo rabino H. Goldstein, de New York, se acreditava em Deus, o físico Albert Einstein respondeu: "Acredito no Deus de Espinosa, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pelo destino e pelas ações dos homens".
Albert Einstein (1879-1955)

"Eu quero saber como Deus criou este mundo. Eu não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro deste ou daquele elemento. Eu quero saber os pensamentos dele; o resto são detalhes."
( Albert Einstein ) 



O filósofo francês René Descartes, morto em 1596, foi um dos fundadores do moderno movimento racionalista ao tempo em que introduziu a dúvida como elemento primordial para a investigação filosófica e científica.
Descartes (1596-1650)


"Presumirei, então, que existe não um verdadeiro Deus, que é a suprema fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos astucioso e enganador do que poderoso que dedicou todo o seu empenho em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos não passam de ilusões e fraudes que Ele utiliza para surpreender minha credulidade."
(Descartes)


Blaise Pascal foi exceção em sua época. Enquanto a maioria dos filósofos viviam quase exclusivamente de herança de Descartes, o autor que defendia o racionalismo e a especulação lógica, fria, clara e precisa aplicados a toda e qualquer forma de ciência, seja ela exata ou humana, Pascal moveu, então, uma guerra encarniçada contra esses conceitos.
Pascal (1623-1662)


"Não posso perdoar Descartes; bem quisera ele, em toda sua filosofia, passar sem Deus, mas não pode evitar de fazê-lo dar um piparote para pôr o mundo em movimento; depois do que, não precisa mais de Deus. (Pascal, 1966). No pensamento 77, declara não poder perdoar a Descartes por ter dado pouco espaço a Deus em sua filosofia."
(Pascal)






Não nos esqueçamos de que o Deus spinoziano é a substância única e a causa única; isto é, estamos em cheio no panteísmo. A substância divina é eterna e infinita: quer dizer, está fora do tempo e se desdobra em número infinito de perfeições ou atributos infinitos.
Spinoza (1632-1677)
"Entendo por Deus o ser absolutamente infinito, isto é, uma substancia constituída por uma infinidade de atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita."
(Spinoza)


Nunca esgravatei a terra nem farejei ninhos, não herborizei nem joguei pedras nos passarinhos. Mas os livros foram meus passarinhos e meus ninhos, meus animais domésticos, meu estábulo e meu campo; a biblioteca era o mundo colhido num espelho; (...) Eu achara minha religião: nada me pareceu mais importante do que um livro. Na biblioteca, eu via um templo.
Jean Paul Sartre (1905-1980)


(...e sob a forma de uma pequena intuição, lembro-me muito bem que disse a mim mesmo: Deus não existe. É notável pensar que pensei isso aos onze anos, e nunca mais tornei a fazer-me a pergunta até hoje, isto é, durante sessenta anos (...). Não recordo haver-me jamais lamentado ou surpreendido pelo fato de Deus não existir.)
(Sartre)

CARTA DE UM TURCO SOBRE OS FAQUIRES E SEU AMIGO BABABEC

Voltaire 1694-1778
Voltaire o pseudônimo (apelido) de François-Marie Arouet. Foi um importante ensaísta, escritor e filósofo iluminista francês. Nasceu na cidade de Paris, em 21 de novembro de 1694 e morreu, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1778. Durante sua vida escreveu diversos ensaios, romances, poemas e até peças de teatro.


CARTA DE UM TURCO SOBRE OS FAQUIRES E SEU AMIGO BABABEC




Quando me achava na cidade de Benarés, à margem do Ganges, antiga pátria dos brâmanes, procurava instruir-me. Compreendia passavelmente o hindu; escutava muito e observava tudo. Parava em casa de meu correspondente Omri, o homem mais digno que já conheci na vida. Era ele da religião dos brâmanes; quanto a mim, tenho a honra de ser muçulmano; mas nunca trocamos uma palavra mais alta a respeito de Maomé e de Brama. Fazíamos as abluções cada qual para o seu lado; bebíamos da mesma limonada, comíamos do mesmo arroz, como irmãos.
Fomos um dia juntos ao pagode de Gavani. Vimos ali vários bandos de faquires. Uns eram janguis, isto é, faquires contemplativos; e os outros eram discípulos dos antigos ginossofistas, que levavam uma vida ativa. Possuem, como é sabido; uma língua erudita, que é a dos mais antigos brâmanes, e, nessa língua, um livro chamado os Vedas. É certamente o mais antigo livro de toda a Ásia, sem excetuar o Zend Avesta.
Passei por um faquir que lia esse livro.
— Ah! desgraçado infiel! – exclamou ele. – Tu me fizeste perder o número das vogais que eu estava contando; e por isso a minha alma vai passar para o corpo de uma lebre, em vez de ir para o de um papagaio, como eu tinha motivos de crer.
Dei-lhe uma rúpia para consolá-lo. Dali a alguns passos, aconteceu-me a desgraça de espirrar, e o ruído que fiz despertou um faquir que se achava em êxtase.
— Onde estou? – disse ele. – Que horrível queda! Não vejo mais a ponta do nariz; a luz celeste dissipou-se.
— Se sou o causante – disse-lhe eu – de que afinal enxergues além da ponta do nariz, eis uma rúpia para reparar o mal. Retoma a tua luz celeste.
Depois de assim contornar discretamente a situação, fui ter com os ginossofistas: vários deles me trouxeram uns preguinhos muito bonitos, para os fincar em meus braços e coxas, em honra de Brama. Comprei-lhes os pregos, com os quais mandei pregar meus tapetes. Outros dançavam sobre as mãos; outros na corda bamba; outros andavam num pé só. Havia uns que carregavam correntes, outros uma sela, outros que conservavam a cabeça dentro de uma caixa: de resto, a melhor gente do mundo.
Meu amigo Omri levou-me à cela de um dos mais famosos; chamava-se Bababec: estava nu como um macaco e trazia ao pescoço uma grossa cadeia que pesava mais de sessenta libras. Achava-se sentado em um banco de madeira, lindamente guarnecido de pregos que lhe penetravam nas nádegas, e dir-se-ia que estava num leito de cetim. Muitas mulheres vinham consultá-lo; era o oráculo das famílias; e pode-se dizer que gozava de grande reputação. Fui testemunha da longa conversa que Omri teve com ele.
— Acreditas, meu pai – perguntou-lhe Omri, – que, após haver passado pela prova das sete metempsicoses, possa eu chegar à morada de Brama?
— Isto é conforme – disse o faquir. – Como vives?
— Trato – disse Omri – de ser bom cidadão, bom esposo, bom pai, bom amigo. Empresto dinheiro sem juros aos ricos e dou aos pobres. Incentivo a paz entre meus vizinhos.
— Não metes algumas vezes pregos no ânus?
— Nunca, reverendo.
— Sinto muito: dessa maneira, só irás para o décimo-nono céu; e é uma pena.
— Qual! Está certo. Sinto-me muito contente com a minha parte. Que me importa o décimo-nono ou o vigésimo, contanto que eu cumpra o dever na minha peregrinação, e seja bem recebido na última morada. Não será suficiente ser um homem direito neste país e depois um homem venturoso no país de Brama? Para que céu pretendes ir então, com os teus pregos e as tuas correntes?
— Para o trigésimo-quinto – disse Bababec.
— És muito engraçado – replicou Omri – com isso de quereres ficar alojado acima de mim: talvez não seja mais que um sinal de excessiva ambição. Se condenas aqueles que buscam honrarias nesta vida, por que então ambicionas honrarias tão grandes na outra? E de resto, por que motivo pretendes ser mais bem tratado do que eu? Fica sabendo que dou em esmolas, em dez dias, mais do que te custam em dez anos todos os pregos que fincas no traseiro. A Brama, pouco se lhe dá que passes o dia nu, com uma corrente ao pescoço. Belo serviço prestas assim à pátria. Considero cem vezes mais a um homem que semeia legumes ou planta árvores do que todos os teus camaradas que olham para a ponta do nariz ou carregam uma sela, por excesso de nobreza d'alma. Depois de assim falar, Omri se abrandou, mostrou-se gentil, acarinhou-o, persuadindo-o enfim a que deixasse os pregos e as correntes, e fosse viver uma vida às direitas, na sua companhia.
Tiraram-lhe o cascão, aspergiram-no de perfumes, vestiram-no decentemente.
Viveu quinze dias muito sensatamente, e confessou que era mil vezes mais feliz do que antes.

Mas desacreditava-se entre o povo e as mulheres não vinham mais consultá-lo. Ele deixou Omri e voltou a seus pregos para ter consideração. 


domingo, 11 de dezembro de 2011

O ESTADO DO PARÁ EM UM PLEBISCITO

"O povo, por ele próprio, quer sempre o bem, mas, por ele próprio, nem sempre o conhece."
Rousseau



Hoje é uma data histórica para o país e principalmente para o Estado do Pará. Os paraenses vão às urnas para decidirem através de um plebiscito se aceitam ou não a criação de dois estados. É histórico para o país por que é a primeira vez que a decisão de criação de um estado é dada a população. Mais ainda para o estado do Pará que com isso pode perder parte de seu território hoje com 1.247.950,003 km2 sendo o segundo maior estado brasileiro perdendo apenas para o estado do Amazonas que tem 1.559.161,682km2 . Para termos ideia de seu território, só o município de Altamira tem seu território superior ao estado do Ceará, enquanto o município paraense tem 159.533,401km2, o estado cearense tem apenas148.920,538km2. Veja mapa abaixo e sua divisão:




FONTE:http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=ibge&source=web&cd=1&sqi=2&ved=0CDAQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.ibge.gov.br%2F&ei=fonkTtvKHMKUgweg1pXyBQ&usg=AFQjCNGuNQz2gH-A3LkAod1HaFm3Qo6FTQ

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

PRESIDENTES ESQUECIDOS?


Ficha de Nereu Ramos:
Nome completo: Nereu de Oliveira Ramos
Data de Nascimento: 3 de setembro de 1888
Local de Nascimento: Lages (SC)

Data da Morte: 16 de junho de 1958
Local da Morte: São José dos Pinhais (PR)
Primeira-dama: Beatriz Pederneiras
Partido: Político: PSD
Profissão: Advogado

Mandato de Nereu Ramos:
Início do mandato: 11 de novembro de 1955
Fim do mandato: 31 de janeiro de 1956 
Tempo de mandato: 2 meses e 21 dias 
Vice-Presidente: Nenhum
Precedido por: Carlos Luz
Sucedido por: Juscelino Kubitschek 

Ficha de José Linhares:
Nome completo: José Linhares
Data de Nascimento: 28 de janeiro de 1886
Local de Nascimento: Baturité (CE)
Data da Morte: 26 de janeiro de 1957
Local da Morte: Caxambu (MG)
Primeira-dama: Luísa Cavalcanti Linhares
Partido: Político: -
Profissão: Advogado


Mandato de José Linhares:
Início do mandato: 29 de outubro de 1945
Fim do mandato: 31 de janeiro de 1946
Tempo de mandato: 3 meses e 5 dias
Vice-Presidente: -
Precedido por: Getúlio Vargas
Sucedido por: Eurico Gaspar Dutra
Idade ao assumir: 59 anos
Posse: em 29.10.1945 tomou posse no Gabinete do Ministro da Guerra, General Góis Monteiro
Observação: Exerceu a Presidência por convocação das Forças Armadas, como Presidente do Supremo Tribunal Federal, tendo em vista a deposição do titular Getúlio Vargas.


Ficha de Carlos Luz:
Nome completo: Carlos Coimbra da Luz
Data de Nascimento: 4 de agosto de 1894
Local de Nascimento: Três Corações (MG)
Data da Morte: 9 de fevereiro de 1961
Local da Morte: Rio de Janeiro (RJ)
Primeira-dama: Graciema Junqueira
Partido: Político: PSD
Profissão: Advogado
Mandato de Carlos Luz:
Início do mandato: 8 de novembro de 1955
Fim do mandato: 11 de novembro de 1955
Tempo de mandato: 3 dias
Vice-Presidente: Nenhum
Precedido por: Café Filho
Sucedido por: Nereu Ramos
Idade ao assumir: 61 anos
Posse: em 08.11.1955 por motivo de afastamento do titular
Afastamento: Deposto por um dispositivo militar e considerado impedido de exercer o cargo de Presidente da República pelo Congresso Nacional
Observação: Como Presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz ocupou a Presidência da República apenas por três dias, não constando no Livro de Posse o assentamento de sua investidura, substituindo o titular licenciado para tratamento de saúde.

domingo, 4 de dezembro de 2011

QUEM DISSE QUE FILOSOFIA NÃO PODE SER UTILITARISTA?

Não mais falamos de processos nem de equipamentos, e sim de ética, moral, disciplina e postura.

                                                               Jander Lopes

"Você vai filosofar onde?". Perguntou-me certa vez um amigo quando lhe disse que pretendia fazer uma faculdade de filosofia. Mas não fiquei surpreso com tal pergunta. Simplesmente porque  a suposta "inutilidade" dessas ciências é que causa a admiração das pessoas  quando se trata de um currículo acadêmico como história, sociologia, teologia e mais ainda como filosofia. Sabemos hoje em dia que o utilitarismo impera em qualquer segmento social, ou seja, só tem valor aquilo cuja ação tenha um retorno imediato e prático seja ele financeiro, afetivo, espiritual, político, religioso, etc. 

No mercado de trabalho, as empresas estão investindo mais ainda na gestão de pessoas. Os processos se tornaram mais acessíveis e de fácil manipulação para o gestor, contudo, agora é hora de se preocupar com quem manipula tais processos, ou seja, as pessoas. No início do século XX as empresas ainda estavam se estruturando, já que a revolução industrial tinha apenas  poucos decênios. Era necessário uma melhor técnica. Os meios necessitavam de mais manufatura e menos investimento nas pessoas. Sabendo disso entra em cena as ciências humanas. Agora é necessário psicólogos, sociólogos e até mesmo filósofos. 

Mas afinal, o que um filósofo pode fazer para que uma empresa possa ter um melhor rendimento nas ações humanas? Pode um sujeito simplesmente discutir filosofia no trabalho e com isso fazer com que as atitudes das pessoas tenha uma mudança prática efetiva? Muitos gestores nem percebem, mas muitas ações ou modos de conversação que eles utilizam são originários dentro da filosofia. Sócrates fazia o que conhecemos na pedagogia como maiêutica socrática e que consiste em multiplicar as perguntas para obter, por indução as respostas, a origem de tal ação, decisão ou qualquer fato pertinente ao trabalho.
"Para destruir, aniquilar definitivamente um homem, infligir-lhe as punições mais terríveis, diante das quais o assassino mais feroz tremeria de pavor, basta apenas lhe atribuir um trabalho de caráter total e inteiramente inútil e irracional." Fiódor Dostoievski  (1821-1881) 
Vejam a ironia: ao fazer a pergunta, o meu amigo não sabia que estava dando para mim um subsídio para usar a filosofia, não só no trabalho, como também no cotidiano. Isso já foi tema de treinamento das equipes no meu trabalho. Nós nos reunimos mensalmente para fazer treinamentos e o uso da filosofia é frequente, para não dizer necessário, nos treinamentos das pessoas. Não mais falamos de processos nem de equipamentos, e sim de ética, moral, disciplina e postura.