HISTÓRIA E FILOSOFIA

domingo, 15 de janeiro de 2012

A Náusea, de Sartre

Uma figura sardenta, esquisita e cuja vesguice se postava atrás de um pesado par de óculos. Assim poderia ser descrita a aparência de uma das mentes mais brilhantes e mais populares do século vinte. Jean-Paul Sartre, nasceu em berço burguês, a 21 de junho de 1905, na cidade de Paris, um ano antes da morte de seu pai, um jovem oficial da marinha, que morreu vitimado por uma febre. Segundo o próprio Sartre, fora esse o maior acontecimento de sua vida " Se tivesse vivido, meu pai teria desmoronado sobre mim e me esmagado"

Raramente um homem sozinho sente vontade de rir. Incomoda-me estar só. Gostaria de falar com alguém sobre o que está me acontecendo, antes que seja tarde demais, antes que eu comece a assustar os garotinhos. Nunca como hoje tive o sentimento tão forte de ser alguém sem dimensões secretas, limitado a meu corpo, aos pensamentos superficiais que sobem dele como bolhas. Construo minhas lembranças com meu presente. Sou repelido para o presente, abandonado nele. Tento em vão ir ter com o passado: não posso fugir de mim mesmo.Para que o mais banal dos acontecimentos se torne uma aventura, basta que nos ponhamos a narrá-lo. Quando se vive, nada acontece. Os cenários mudam, as pessoas entram e saem, eis tudo. Nunca há começo. Os dias se sucedem aos dias, sem rima, nem solução: é uma soma monótona e interminável. De quando em quando, chega-se a um total parcial, dizendo: faz três anos que viajo, três anos que estou em Bouville. Também não há fim: nunca deixamos uma mulher, um amigo, uma cidade, de uma só vez. E todos os lugares se parecem: Xangai, Moscou, Argel, ao fim de uma quinzena é tudo igual. Por alguns momentos - raramente - avaliamos a situação, percebemos que nos envolvemos com uma mulher, que nos metemos numa confusão. Por um átimo. Depois disso o desfile recomeça, voltamos a fazer as contas das horas e dos dias. Segunda, terça, quarta. Abril, maio, junho. 1924, 1925, 1926. [...]