Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje! — NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, §125.
[...] Observando que só no homem encontramos sinais ou frutos da religião, não há motivo para duvidar de qual a semente da religião se encontra apenas no homem, e consiste em alguma qualidade peculiar ou, pelo menos, em algum grau eminente desta qualidade, que nas outras criaturas vivas não se encontra. Primeiramente, é peculiar à natureza do homem investigar as causas dos eventos a que assiste, uns mais outros menos, mas o suficiente em todos os homens para terem a curiosidade de procurar as causas de sua própria boa ou má fortuna. É-lhe também peculiar, em segundo lugar, perante toda e qualquer coisa que tenha sido um começo, pensar que ela também teve uma causa, que determinou este começo no momento em que o fez, nem mais cedo nem mais tarde. [...] Quando se vê na impossibilidade de descobrir as verdadeiras causas das coisas dado que as causas da boa ou má sorte são em sua maior parte invisíveis, supõe causas para elas, quer as que lhe são sugeridas por sua própria fantasia, quer as que aceita da autoridade de outros homens, aos quais considera seus amigos e mais sábios do que ele. [...]
Trecho do livro O Leviatã - Sobre a religião Cap. XII
Thomas Hobbes.