HISTÓRIA E FILOSOFIA

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O CONHECIMENTO EMPÍRICO E O INATO


A Criação pintura de Michelangelo

O homem nasce com um conhecimento prévio ou só ele adquire através da experiência? O debate sobre essa questão se iniciou a partir da discussão de dois dos maiores filósofos da história da filosofia clássica: Platão e Aristóteles. No período da filosofia moderna no século XVII, teve vários expoentes que retomaram a discussão sendo um dos maiores representantes do empirismo o filósofo inglês John Locke (1632-1704). Na obra Ensaio Sobre o Entendimento Humano (1690), desenvolve sua teoria sobre a origem e natureza de nossos conhecimentos, uma forte negação ao inatismo. Cinco anos mais tarde o filósofo alemão Leibniz (1646-1716), inicia sua obra Os Novos ensaios Sobre o Entendimento Humano (1695), onde refuta o empirismo lockeano e ao mesmo tempo expõe de forma original suas ideias sobre o inatismo.

O Pensador (francêsLe Penseur) é uma das mais famosas esculturas de bronze do escultor francêsAuguste Rodin. Retrata um homem em meditação soberba, lutando com uma poderosa força interna.

O empirismo na filosofia é um conceito que tem como ponto central da discussão a aquisição do conhecimento pela experiência, em outras palavras, todo conhecimento é adquirido pelo ser mediante a idéia de que somente as experiências são capazes de gerar idéias e conhecimentos. Quando o homem vem ao mundo é como uma “carta branca”- diziam os empiristas – que é escrita através do aprendizado e experiência de mundo. Ao contrário do empirismo, o inatismo afirma que todo conhecimento, está contido no ser, ou seja, temos noções de conhecimento e cabe à razão através do aprendizado desenvolver aquilo que está implícito em nós.
É sobre esses conceitos que esses dois grandes filósofos do século XVII irão contextualizar e defender seus pontos de vistas apresentados nesse artigo que tem como base duas obras sobre esses temas. Sendo que o Ensaio acerca do Entendimento Humano inaugura a discussão com sua visão empirista e que será um dos principais expositores desse sistema. Em contrapartida, Os Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano de Leibniz faz uma contestação direta ao empirismo de Locke que em forma de diálogo entre dois personagens expõe sua crítica e afirma seu sistema como irrefutável. Dos quatro livros do ensaio, teremos como ponto principal o livro primeiro. 
O inatismo já é negado logo no título do capítulo I e Locke explica usando como ponto de apoio os princípios inatos e noções primárias que segundo a opinião de alguns homens, trazemos conosco antes de conhecer algo pela experiência.  Negando os argumentos propostos Locke diz que esses problemas não têm validade por não se achar num consentimento universal e que conseqüentemente são negados chamando-os de hipótese. O argumento em que se diz (os empíricos), que há certos princípios chamados especulativos e práticos, diz Locke, acordado entre os homens universalmente não prova o inatismo. Descobrimos essas verdades pelo espírito ou raciocínio. Para Locke, o conhecimento segue os seguintes passos: Os sentidos tratam com idéias particulares → a mente se familiariza → deposita na memória e dá nomes → a mente vai abstraindo, apreendendo gradualmente o uso dos nomes gerais. Ele aprofunda esta explicação mais adiante com a solução do problema de Molyneux[1]. Para ele é absurdo ter como anuência universal, pois se sabe que não pode ser universal aquilo que não é conhecido somente por parte dos homens. Isso é apenas uma convenção e não uma convicção de pontos verdadeiros. Locke vê uma aparente contradição quando se diz que há verdades impressas na mente na qual não se consegue perceber “Se por tanto as crianças e os idiotas possuem almas, possuem mentes dotadas destas impressões, devem inevitavelmente percebê-las, e necessariamente conhecer e assentir com estas verdades; se, ao contrário, não o fazem, tem-se como evidente que essas impressões não existem.” (Capítulo I, p.5) e isto seria uma causa que não levaria a lugar nenhum. O inatismo aceito por Locke é a capacidade de perceber. Essa sim é que serve e é útil para obter todo conhecimento possível. Entende-se por capacidade aquilo que faz parte da própria estrutura humana como, por exemplo, os sentidos. A capacidade é algo, porém que serve como extensão dos sentidos. Todo conhecimento é adquirido, aquela serve como “fio condutor” para que este se manifeste na mente fazendo o ser ter conhecimento do mundo sensível. Outro argumento importante usado para justificar o inatismo seria o seguinte: passa-se a conhecer algo quando se usa a razão. Ora, Locke diz ser falso porque “a razão nada mais é do que a faculdade de deduzir verdades desconhecidas de princípios ou proposições já conhecidos”. (Capítulo I, p.9). E o uso da razão não dá provas para aceitar o inatismo. Que a razão não implicaria necessariamente no entendimento do que tal coisa significa. Um bom exemplo seria como as crianças que ao atingirem o uso da razão não têm conhecimento de certas máximas.




[1]Em 7 de Julho de 1688, William Molyneux escreveu uma carta a John Locke em que propunha um problema. John Locke apresentou o problema na segunda edição do seu Ensaio da seguinte forma: Suponha um homem cego de nascença, agora adulto, ensinado pelo seu tato a distinguir entre um cubo e uma esfera do mesmo metal e aproximadamente do mesmo tamanho, de tal forma que possa dizer, quando ele sentisse um ou o outro, qual é o cubo e qual é a esfera. Suponha, então, o cubo e a esfera colocados sobre uma mesa e o cego é tornado capaz de ver. Se pela sua visão, antes de tocá-los, ele agora pode distinguir e dizer qual é o globo e qual é o cubo. Esse ficou conhecido como o Problema de Molyneux. Na sua forma geral, o problema é sobre a conexão entre o que percebemos por meio de um sentido, o tato, e o que percebemos por meio de outro sentido, a visão: essa conexão é inata e, portanto, a priori ou empiricamente aprendida? Se for inata então o cego que voltou a ver saberá dizer, sem necessidade de experiências adicionais, qual dos objetos ele vê é o triângulo e qual é o cubo. A resposta de Locke foi, é claro, empirista: a conexão é empiricamente aprendida e, portanto, o cego que voltou a ver não saberá dizer imediatamente qual é o triângulo e qual é o cubo.