HISTÓRIA E FILOSOFIA

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MELHOR SER AMADO OU TEMIDO?

"Porque dos homens se pode dizer duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando a ele chega, revoltam-se."

                                                           N. Maquiavel (1469-1527)

Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando a ele chega, revoltam-se. E perde-se aquele príncipe que por ter acreditado as suas palavras se encontra nu de qualquer outra defesa; porque as amizades que se adquirem a preço e não por grandeza ou nobreza de alma, compram-se, mas não se possuem e no momento oportuno não se podem empregar. Os homens têm menor escrúpulo em ofender um que se faz amar, do que um que se faz temer, porque o amor está unido com o vínculo da obrigação o qual, por os homens serem maus, se parte na primeira ocasião em que surja o interesse, mas o temor é sustentado pelo medo do castigo o qual nunca se perde. Deve, todavia, o príncipe fazer-se temer de modo que, se não adquire amizade, evite ser odiado, porque pode muito bem ser ao mesmo tempo temido e não odiado; o que sempre conseguirá desde que respeite os bens dos seus concidadãos e dos seus súbditos e a honra das suas mulheres; e quando se veja obrigado a proceder contra o sangue dalgum, não o fará sem justificação conveniente e causa manifesta; mas sobretudo não tocar na propriedade alheia, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do património. E depois, não faltam nunca motivos para apoderar-se do alheio e sempre aquele que começa a viver da rapina encontra razões para apoderar-se do que é dos outros, ao passo que as ocasiões de fazer correr sangue são mais raras e faltam mais amiúde.

Trecho do livro "O Príncipe" Cap. XVII -  N. Maquiavel


Concordo principalmente onde Maquiavel diz " os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do patrimônio". Seu pensamento é muito realista e sempre afirma como as coisas são, e não como deveriam ser, contudo ninguém quer ouvir a realidade, é melhor falar o que os outros quererem ouvir do que dizer a verdade mesmo que ninguém goste. Aliás, ninguém pode ser verdadeiro em todo momento... Somos, se quisermos ser, acondicionados a viver de maneira regrada por convenções.