HISTÓRIA E FILOSOFIA

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

EM POUCAS PALAVRAS O QUE ELES PENSAVAM SOBRE DEUS?

ADVERTÊNCIA DO AUTOR DESTE BLOG




A vastidão de teorias que se têm sobre o conceito de Deus em toda história da humanidade desde o pensamento dos primeiros homens até aos dias de hoje, é infinitamente vasta e inesgotável seu conteúdo. A simples publicação de uma pequena frase de um só pensador, daria grossos volumes de livros e teses que jamais daria conta de toda a questão. Nesse sentido, aqui temos apenas uma ínfima parte para uma reflexão daquilo que podemos conceber por ser o assunto de grandeza como um oceano de pensamentos dos mais variáveis sobre Deus. Certamente que ao fim da postagem, muitos perguntarão o por que não citar outros que tiveram sua relevância desde os antigos como Sócrates, Platão e Aristóteles passando pelos medievais como Santo Agostinho, Boécio, Santo Tomás de Aquino seguindo pelos modernos como locke, Hume, Rousseau, Berkeley, Kant até aos contemporânes como Kierkegaard, Schopenhauer, Wittgenstein, Heiddeger etc. Isto se deve ao fato citado anteriormente: não se pode dar conta de tal questão (Deus) até mesmo pelo fato da complexidade de sua abstração ser inatingível.


Evidentemente que ao publicar pensamentos de filósofos sobre crenças, valores, costumes, etc, o autor deste blog não toma nenhuma posição contra ou a favor de qualquer que seja a visão de cada autor. Com isso, não pretendo tomar como certo ou errado qualquer que seja uma linha filosófica ficando apenas para o próprio leitor fazer suas análises e com isso tirar suas conclusões contra ou a favor de tais questões. Cabe ao conteúdo cultural de cada um ponderar sobre questões conceituais que se limitam à especulação. O próprio autor do HRHT (HISTÓRIA: O RETRATO DO HOMEM NO TEMPO), tem suas colocações e opiniões sobre tais questões mas de forma alguma pretende impor qualquer que seja suas considerações pessoais, ficando assim a cargo dos próprios visitantes tomarem ou não suas posições filosóficas ou religiosas. Deixo-vos o seguinte trecho da obra Pensamentos de Michel de Montaigne:

A ignorância sábia

"Aconteceu aos verdadeiros sábios o que se verifica com as espigas de trigo, que se erguem orgulhosamente enquanto vazias e, quando se enchem e amadurece o grão, se inclinam e dobram humildemente. Assim esses homens, depois de tudo terem experimentado, sondado e nada haverem encontrado nesse amontoado considerável de coisas tão diversas, renunciaram à sua presunção e reconheceram a sua insignificância. (...) Quando perguntaram ao homem mais sábio que já existiu o que ele sabia, ele respondeu que a única coisa que sabia era que nada sabia. A sua resposta confirma o que se diz, ou seja, que a mais vasta parcela do que sabemos é menor que a mais diminuta parcela do que ignoramos. Em outras palavras, aquilo que pensamos saber é parte — e parte ínfima — da nossa ignorância."

                                                                                                                     Michel de Montaigne (1533-1592)

Robert Schuller, um maçom de Grau 33, é o homem que assumiu o manto de Norman Vincent Peale (também um maçom de Grau 33), o originador do evangelho da auto-estima. O igualmente famoso Norman Vincent Peale foi pastor da Igreja Marble Collegiate, na cidade de Nova York, até 1984.
Robert Schuller (1926 -     )


"Qualquer um pode contar as sementes em uma maçã, mas só Deus pode contar o número de maçãs em uma semente."
( Robert H. Schuller ) 

Segundo Nietzsche, o cristianismo concebe o mundo terrestre como um vale de lágrimas, em oposição ao mundo da felicidade eterna do além. Essa concepção constitui uma metafísica que, à luz das idéias do outro mundo, autêntico e verdadeiro, entende o terrestre, o sensível, o corpo, como o provisório, o inautêntico e o aparente. Trata-se, portanto, diz Nietzsche, de "um platonismo para o povo", de uma vulgarização da metafísica, que é preciso desmistificar. O cristianismo, continua Nietzsche, é a forma acabada da perversão dos instintos que caracteriza o platonismo, repousando em dogmas e crenças que permitem à consciência fraca e escava escapar à vida, à dor e à luta, e impondo a resignação e a renúncia como virtudes.
Friedrich Nietzsche (1844-1900)

"O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança. "
( Friedrich Nietzsche ) 

"Quando, em 1921, perguntado pelo rabino H. Goldstein, de New York, se acreditava em Deus, o físico Albert Einstein respondeu: "Acredito no Deus de Espinosa, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pelo destino e pelas ações dos homens".
Albert Einstein (1879-1955)

"Eu quero saber como Deus criou este mundo. Eu não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro deste ou daquele elemento. Eu quero saber os pensamentos dele; o resto são detalhes."
( Albert Einstein ) 



O filósofo francês René Descartes, morto em 1596, foi um dos fundadores do moderno movimento racionalista ao tempo em que introduziu a dúvida como elemento primordial para a investigação filosófica e científica.
Descartes (1596-1650)


"Presumirei, então, que existe não um verdadeiro Deus, que é a suprema fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos astucioso e enganador do que poderoso que dedicou todo o seu empenho em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos não passam de ilusões e fraudes que Ele utiliza para surpreender minha credulidade."
(Descartes)


Blaise Pascal foi exceção em sua época. Enquanto a maioria dos filósofos viviam quase exclusivamente de herança de Descartes, o autor que defendia o racionalismo e a especulação lógica, fria, clara e precisa aplicados a toda e qualquer forma de ciência, seja ela exata ou humana, Pascal moveu, então, uma guerra encarniçada contra esses conceitos.
Pascal (1623-1662)


"Não posso perdoar Descartes; bem quisera ele, em toda sua filosofia, passar sem Deus, mas não pode evitar de fazê-lo dar um piparote para pôr o mundo em movimento; depois do que, não precisa mais de Deus. (Pascal, 1966). No pensamento 77, declara não poder perdoar a Descartes por ter dado pouco espaço a Deus em sua filosofia."
(Pascal)






Não nos esqueçamos de que o Deus spinoziano é a substância única e a causa única; isto é, estamos em cheio no panteísmo. A substância divina é eterna e infinita: quer dizer, está fora do tempo e se desdobra em número infinito de perfeições ou atributos infinitos.
Spinoza (1632-1677)
"Entendo por Deus o ser absolutamente infinito, isto é, uma substancia constituída por uma infinidade de atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita."
(Spinoza)


Nunca esgravatei a terra nem farejei ninhos, não herborizei nem joguei pedras nos passarinhos. Mas os livros foram meus passarinhos e meus ninhos, meus animais domésticos, meu estábulo e meu campo; a biblioteca era o mundo colhido num espelho; (...) Eu achara minha religião: nada me pareceu mais importante do que um livro. Na biblioteca, eu via um templo.
Jean Paul Sartre (1905-1980)


(...e sob a forma de uma pequena intuição, lembro-me muito bem que disse a mim mesmo: Deus não existe. É notável pensar que pensei isso aos onze anos, e nunca mais tornei a fazer-me a pergunta até hoje, isto é, durante sessenta anos (...). Não recordo haver-me jamais lamentado ou surpreendido pelo fato de Deus não existir.)
(Sartre)

CARTA DE UM TURCO SOBRE OS FAQUIRES E SEU AMIGO BABABEC

Voltaire 1694-1778
Voltaire o pseudônimo (apelido) de François-Marie Arouet. Foi um importante ensaísta, escritor e filósofo iluminista francês. Nasceu na cidade de Paris, em 21 de novembro de 1694 e morreu, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1778. Durante sua vida escreveu diversos ensaios, romances, poemas e até peças de teatro.


CARTA DE UM TURCO SOBRE OS FAQUIRES E SEU AMIGO BABABEC




Quando me achava na cidade de Benarés, à margem do Ganges, antiga pátria dos brâmanes, procurava instruir-me. Compreendia passavelmente o hindu; escutava muito e observava tudo. Parava em casa de meu correspondente Omri, o homem mais digno que já conheci na vida. Era ele da religião dos brâmanes; quanto a mim, tenho a honra de ser muçulmano; mas nunca trocamos uma palavra mais alta a respeito de Maomé e de Brama. Fazíamos as abluções cada qual para o seu lado; bebíamos da mesma limonada, comíamos do mesmo arroz, como irmãos.
Fomos um dia juntos ao pagode de Gavani. Vimos ali vários bandos de faquires. Uns eram janguis, isto é, faquires contemplativos; e os outros eram discípulos dos antigos ginossofistas, que levavam uma vida ativa. Possuem, como é sabido; uma língua erudita, que é a dos mais antigos brâmanes, e, nessa língua, um livro chamado os Vedas. É certamente o mais antigo livro de toda a Ásia, sem excetuar o Zend Avesta.
Passei por um faquir que lia esse livro.
— Ah! desgraçado infiel! – exclamou ele. – Tu me fizeste perder o número das vogais que eu estava contando; e por isso a minha alma vai passar para o corpo de uma lebre, em vez de ir para o de um papagaio, como eu tinha motivos de crer.
Dei-lhe uma rúpia para consolá-lo. Dali a alguns passos, aconteceu-me a desgraça de espirrar, e o ruído que fiz despertou um faquir que se achava em êxtase.
— Onde estou? – disse ele. – Que horrível queda! Não vejo mais a ponta do nariz; a luz celeste dissipou-se.
— Se sou o causante – disse-lhe eu – de que afinal enxergues além da ponta do nariz, eis uma rúpia para reparar o mal. Retoma a tua luz celeste.
Depois de assim contornar discretamente a situação, fui ter com os ginossofistas: vários deles me trouxeram uns preguinhos muito bonitos, para os fincar em meus braços e coxas, em honra de Brama. Comprei-lhes os pregos, com os quais mandei pregar meus tapetes. Outros dançavam sobre as mãos; outros na corda bamba; outros andavam num pé só. Havia uns que carregavam correntes, outros uma sela, outros que conservavam a cabeça dentro de uma caixa: de resto, a melhor gente do mundo.
Meu amigo Omri levou-me à cela de um dos mais famosos; chamava-se Bababec: estava nu como um macaco e trazia ao pescoço uma grossa cadeia que pesava mais de sessenta libras. Achava-se sentado em um banco de madeira, lindamente guarnecido de pregos que lhe penetravam nas nádegas, e dir-se-ia que estava num leito de cetim. Muitas mulheres vinham consultá-lo; era o oráculo das famílias; e pode-se dizer que gozava de grande reputação. Fui testemunha da longa conversa que Omri teve com ele.
— Acreditas, meu pai – perguntou-lhe Omri, – que, após haver passado pela prova das sete metempsicoses, possa eu chegar à morada de Brama?
— Isto é conforme – disse o faquir. – Como vives?
— Trato – disse Omri – de ser bom cidadão, bom esposo, bom pai, bom amigo. Empresto dinheiro sem juros aos ricos e dou aos pobres. Incentivo a paz entre meus vizinhos.
— Não metes algumas vezes pregos no ânus?
— Nunca, reverendo.
— Sinto muito: dessa maneira, só irás para o décimo-nono céu; e é uma pena.
— Qual! Está certo. Sinto-me muito contente com a minha parte. Que me importa o décimo-nono ou o vigésimo, contanto que eu cumpra o dever na minha peregrinação, e seja bem recebido na última morada. Não será suficiente ser um homem direito neste país e depois um homem venturoso no país de Brama? Para que céu pretendes ir então, com os teus pregos e as tuas correntes?
— Para o trigésimo-quinto – disse Bababec.
— És muito engraçado – replicou Omri – com isso de quereres ficar alojado acima de mim: talvez não seja mais que um sinal de excessiva ambição. Se condenas aqueles que buscam honrarias nesta vida, por que então ambicionas honrarias tão grandes na outra? E de resto, por que motivo pretendes ser mais bem tratado do que eu? Fica sabendo que dou em esmolas, em dez dias, mais do que te custam em dez anos todos os pregos que fincas no traseiro. A Brama, pouco se lhe dá que passes o dia nu, com uma corrente ao pescoço. Belo serviço prestas assim à pátria. Considero cem vezes mais a um homem que semeia legumes ou planta árvores do que todos os teus camaradas que olham para a ponta do nariz ou carregam uma sela, por excesso de nobreza d'alma. Depois de assim falar, Omri se abrandou, mostrou-se gentil, acarinhou-o, persuadindo-o enfim a que deixasse os pregos e as correntes, e fosse viver uma vida às direitas, na sua companhia.
Tiraram-lhe o cascão, aspergiram-no de perfumes, vestiram-no decentemente.
Viveu quinze dias muito sensatamente, e confessou que era mil vezes mais feliz do que antes.

Mas desacreditava-se entre o povo e as mulheres não vinham mais consultá-lo. Ele deixou Omri e voltou a seus pregos para ter consideração.