HISTÓRIA E FILOSOFIA

sábado, 30 de junho de 2012

O HOMEM ENGANA-SE A SI PRÓPRIO


"Chama-se adulador aquele que diz, sem pensá-lo, o que o adulado pensa de si próprio sem dizê-lo. "


"Os homens nunca revelam os verdadeiros objetivos pelos quais atuam. Intimamente, exageram os motivos baixos, materiais: publicamente, anunciam os motivos nobres, espirituais. Mentem em ambos os casos. Os homens não conhecem os outros nem a si próprios. 
A maior parte dos homens vive de instinto, hábito e imitação, animalmente - por vezes, com intermédios de felicidade inconsciente. Os poucos superiores sofrem, tentam, desesperam. Os mais elevados são os que desejam apenas as coisas inacessíveis, impossíveis (amor perfeito, arte perfeita, felicidade, eternidade, etc.). 
Todos os homens tentam enganar o próximo. Todos os homens procuram superar e dominar o próximo. Todos os homens se imaginam no bem, no passado ou no futuro. Todos homens se esquecem dos verdadeiros fins e fazem dos meios os seus objetivos. Para onde quer que os homens se voltem, depara-se-lhes o impossível. Todos os homens se julgam mais que os outros. 
Não basta aos homens possuir um bem, se não for maior que o do próximo. E, obtido um bem, cansam-se dele (saciedade, náusea) - ou então têm medo de o perder e padecem - ou desejam outro. Para obterem um bem imediato, não pensam no mal próximo que advirá. 
Todos tentam extrair dos outros mais do que podem: os industriais dos compradores - os patrões dos operários - os operários dos patrões, etc., etc. -, e dar o menos que podem - e como todos fazem o mesmo, a vida é uma contenda, um engano - sem vantagem para ninguém."

Relatório sobre os Homens, de Giovani Papini

quinta-feira, 28 de junho de 2012

GERAÇÃO SANDUICHE?


"Quem quer que ponha as mãos sobre mim para me governar é um usurpador,
um tirano e eu o declaro meu inimigo." [ Raul Santos Seixas ]
28/06/1945 - 21/08/1989



"Sou da geração-sanduiche, aquela que segurou os valores dos pais e os valores dos surfistas de hoje." Assim se definiu certa vez Raul Seixas que se estivesse vivo hoje estaria com 67 anos. Mas isso Raul não se referia ao conhecido termo como dizem alguns especialistas em comportamento humano que "geração sanduiche" é aquela que cuida dos filhos e dos pais ao mesmo tempo. Por ter vivido plenamente o pós-guerra e ter visto as transformações que a guerra-fria trazia consigo, esse grande compositor baiano estava presenciando uma geração totalmente inquieta.

Como ele mesmo dizia "eu nasci no ano da bomba atômica", isto já por si só é motivo de reflexão para, daí em diante, fazer aquilo que mais gostava: ler, escrever e compor. Evidentemente que muitas de suas composições e pensamentos são palavras já ditas por filósofos, mas afina, quem fez melhor que ele? Nunca um cantor e compositor falou em temas tão diversificados como o que Raul Seixas deixou em suas canções, tais como: eu sou a mosca que perturba o seu sono (Sócrates); É você olhar no espelho, saber que é humano ridículo limitado... (Rousseau).  

Talvez a melhor maneira de compreender Raul Seixas seja através da leitura de "O outsider", do inglês Colin Wilson (um autor, aliás, que merece ser redescoberto). Quase tudo o que se conta no livro sobre Nijinski, Van Gogh e Dostoiesvski aplica-se perfeitamente à vida e à obra de Raul Seixas. O "outsider" é aquele cara que "vê" o mundo de uma maneira diferente. Ele tem a capacidade de enxergar coisas que o cidadão comum não enxerga. Ele desvenda a superestrutura da sociedade; ele consegue achar os nexos lógicos da vida onde os outros só vêem o caos. 

domingo, 24 de junho de 2012

A SUPLANTAÇÃO DA RAZÃO INSTRUMENTAL NOS MEIOS DE PRODUÇÃO HUMANA



"Os homens só consideram útil o que oferece dificuldade. A facilidade enche-os de suspeitas." (Michel de Montaigne)


No seu livro “Eclipse da Razão” publicado em 1955, Horkheimer define mais amplamente o conceito racionalidade instrumental. Ele distingue duas formas de razão: a razão subjetiva (interior) e razão objetiva (exterior).

Em 1947 Max Horkheimer (1895-1973), realizou cinco palestras públicas na universidade de Colúmbia onde esta veio a se tornar o material de publicação de sua obra Eclipse of Reason (Eclípse da Razão). Essa obra, onde o próprio Horkheimer com sua característica  crítica da Escola de Frakfurt, faz profundas indagações e críticas à razão. Poderíamos considerá-la como uma revelação sistemática de comportamentos que iriam se insurgiram ao longo da segunda metade do século XX. 
Esses acontecimentos se deram principalmente nos campos sociais de um modo geral como também nas esferas de atuação humana como na religião, por exemplo. Muitas guerras e conflitos ideológicos transformaram o comportamento do homem contemporâneo. Para citar algumas das guerras mais sangrentas - a guerra do Vietnã (1975) - que deixou dois países destruídos e que teve severas consequências para os norte-americanos. 
No campo da economia podemos citar os dois sistemas de maior força nesse período: o socialismo e o capitalismo. Estes, simbolizados pelo muro de Berlim durante o período da Guerra Fria. Um dos resquícios desses fatos, lembremos a Revolução Cubana em 1959.
No campo da religião temos um dos maiores acontecimentos depois de quase 90 anos desde o último concílio da Igreja Católica em 1870 (Concílio Vaticano I). Talvez o concílio que mais houve transformações depois do Concílio de Trento (1545) foi o realizado em 1962 no Concílio Vaticano II. A Igreja no pós guerra, teve rever sua maneira de aproximar-se dos fiéis e promover transformações em suas liturgias eclesiais.
Por tanto, durante toda Guerra Fria os acontecimentos formarão após a queda do Muro de Berlin, o cenário para novas formas de agir e pensar. Não mais com uma razão fundada para uma perspectiva humana, mas para promover o homem e sua interação no mundo tecnológico e cintífico. Os frankfurtianos e principalmente Horkheimer, colocam em análise a questão da Razão. Horkheimer caracteriza a Razão em subjetiva e objetiva, sendo que a primeira refere-se à tendências de reduzir tudo a resultados imediatos, números, mensuração ou, de uma maneira até pragmática, qual a utilidade disto ou daquilo? Enquanto a outra, serve ao homem como uma auto crítiza uma autoanálise para uma reflexão de seus comportamentos e atitudes. Daí em diante, o filósofo "sentencia" o mundo no qual ele percebe onde a Razão, agora instrumentalizada, perde o sentido para que dela o homem possa viver de acordo com suas próprias opiniões sem se deixar levar por ideologias onde, no pós-guerra, causaram todo tipo de males na humanidade.



Horkheimer, foi um dos mais notávele respeitado historiador da escola de Frankfurt. Fez criticas ao marco fundamental da modernidade, o racionalismo de Descartes. As criticas de Horkheimer, dirigiram-se à constatação de que o pensamento nascido com Descartes e,posteriormente, transformado num dos princípios fundamentais da ciência moderna, ao privilegiar sem nenhum restrição uma racionalidade abstrata e voltada para a dominação da natureza, colocava o pensamento e a especulação filosófica numa via de crescente degradação: a razão transformou-se num mero instrumento de dominação, perdendo sua força esclarecedora e seu poder libertador.

A razão subjetiva (instrumental) é a faculdade que torna possível as nossas ações. É a faculdade de classificação, inferência e dedução, ou seja, é a faculdade que possibilita o “funcionamento abstrato do mecanismo de pensamento”. (Horkheimer, 1974, p. 11). Essa razão se relaciona com os meios e fins. Ele é neutra, formal, abstrata, e lógico-matemática. “A razão subjetiva se revela como a capacidade de calcular probabilidades e desse modo coordenar os meios corretos com um fim determinado” (Horkheimer,1974, p. 13).
Por sua vez, a razão objetiva (Logos), conhecida desde a época clássica da história da Grécia, era considerada o principal conceito da filosofia. A razão não é somente uma faculdade mental, mas é também do mundo objetivo. Existe uma ordem, uma harmonia por trás do mundo, uma racionalidade objetiva. A razão se manifesta nas relações entre os seres humanos, na organização da sociedade, em suas instituições, na natureza e no cosmo. As teorias de Platão, Aristóteles, o escolasticismo e o idealismo alemão se fundamentam sobre uma teoria objetiva da razão.
Durante a evolução do conhecimento a faculdade subjetiva do pensar foi tomando o lugar da razão objetiva. A faculdade subjetiva de pensar foi o instrumento crítico que dissolveu os conceitos da mitologia e da filosofia (razão objetiva) como mera superstição. A luta da razão subjetiva contra a mitologia e a filosofia, ao denunciá-las como falsa objetividade, teve que usar conceitos que reconheceu como válidos, como a lógica formal e a matemática. O resultado disso foi que nenhuma realidade particular pode ser vista como racional. A razão na busca de uma objetividade cada vez maior se formalizou. Em sua formalização a razão foi transformando o pensamento em um simples instrumento.
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ARTIGO: A POSSIBILIDADE DE UMA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL EM HORKHEIMER: DA TEORIA CRÍTICA À CRITICA DA RAZÃO INSTRUMENTAL (Nathalia Guimarães)
A razão deveria ser tratada como autopreservação, mas o interesse particular, motivado à luz de uma razão subjetiva deslocou o homem do seu ser social. A autopreservação que deveria ser o ato de preservar a espécie e, portanto, a humanidade, ganha uma dimensão dominadora já que autopreservação tornou-se sinônimo de lucro e, portanto de exploração da humanidade.
Nesse capítulo apresentar-se-á a crise da Razão como chave de interpretação da teoria crítica de Max Horkheimer. Ao fazer isso, automaticamente se coloca em xeque o conceito de autonomia. Horkheimer mostra que a razão reduzida ao domínio técnico não garante a emancipação.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

O PODER QUE NOS TORNA ANTI-HUMANOS

Líder revolucionário e político soviético (21/12/1879-5/3/1953). Josef Vissariónovitch Diugachvíli nasce em Gori, na Geórgia. Filho de um sapateiro, estuda em escola de padres, da qual é expulso por apresentar pontos de vista marxistas. Em 1902 torna-se militante do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), fundado por Lênin.

Quando Josef Stalin (1878-1953), disse certa vez: "Uma única morte é uma tragédia; um milhão de mortes é uma estatística." Certamente sua alma estava impregnada pelo desejo do poder. Assim como muitos de sua época em que o desejo de subjugar nações era a principal maneira de adquirir poderes controladores com um sabor ideológico. E mesmo aqueles menos ambiciosos não deixaram de tomar para si algumas das oportunidades de fazer aquilo que Maquiavel já nos havia dito, que o homem deseja apenas duas coisas: primeiro o poder, e segundo, manter-se no poder. Certamente ele e falava com propriedade. Pois somente uma pessoa que passou quase sua vida inteira em meio a intrigas e bajulações para com reis despóticos da Renascença poderia chegar ao ponto de discordar até mesmo de Aristóteles com fala-se em comportamento humano. Pessoas como Hitler, jamais poderia atender ao pedido de Mahatma Gandhi quando escreveu sua carta ao Führer vejamos esta carta na íntegra:


No dia 23 de julho de 1939, Mahatma Ghandi, o líder pacifista do processo de independência da Índia, mandou uma carta Hitler, presidente da Alemanha e que tinha acabado de comandar a invasão da Polônia. Na carta, o indiano pede ao alemão que evite a guerra, como conselho que alguém que tinha feito isso e teve sucesso. A carta foi interceptada pelo governo britânico e nunca chegou às mãos de Hitler.
“Em Warda
Querido amigo

Amigos têm me pedido com veemência que eu lhe escreva para o bem da humanidade. Mas eu tenho resistido a esse pedido, pois eu sinto que qualquer carta minha para você seria impertinente. Algo me diz que eu não devo hesitar sobre isso e devo fazer meu apelo, que pode valer a pena.

Está bem claro agora que você é o único homem no mundo que pode impedir uma guerra que poderá levar a humanidade ao estado selvagem. Você deve pagar esse preço por algo, por valioso que lhe pareça? Você vai ouvir o apelo de alguém que deliberadamente deixou de lado métodos de guerra e obteve considerável sucesso? De qualquer forma, antecipo minhas desculpas, caso tenha errado em escrever para você.

Eu permaneço

Seu sincero amigo
M. K. Ghandi

HERR HITLER
BERLIM
ALEMANHA"

sábado, 2 de junho de 2012

AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS E SUAS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A guerra é um massacre entre gente que não se conhece, para proveito de pessoas que se conhecem, mas não se massacram."
Esta citação jamais poderia ser de Hitler, ela é do poeta e ensaísta francês Paul Valéry.

As duas guerras mundiais ocorridas no século 20 transformou e abalou o mundo em suas estruturas sociais onde, após estes acontecimentos que até hoje, ainda mesmo no século 21 podemos sentir seus efeitos. Essas transformações tiveram forte impacto em três principais esferas ou campos onde o homem atua social, moral e intelectualmente: no campo religioso; no campo político, econômico e cultural. Por tanto, como dizia o general e estrategista prussiano Carl Von Clausewiz "a guerra é a continuação da política por outros meios" hoje ainda existe resquícios desses acontecimentos bárbaros. 

Primeiro vamos analisar o campo religioso e como foi a sua transformação. O grande fator de mudança nesse campo ocorreu em 1962 com o Concílio Vaticano II por tanto, quase duas décadas depois da Segunda Guerra Mundial. A pós o concílio a Igreja viu uma real necessidade de mudança e que suas estruturas que atua sobre o comportamento humano como, a moral ou espiritual não podiam dar sentido diante das novas transformações. Vejamos o que diz o decreto Ad Gentes sobre algumas mudanças: "No estado actual das coisas, de que surgem novas condições para a humanidade, a Igreja, que é sal da terra e luz do mundo (4), é com mais urgência chamada a salvar e a renovar toda a criatura, para que tudo seja instaurada em Cristo e n'Ele os homens constituam uma só família e um só Povo de Deus."(decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja- Concílio Vaticano II ano 1962).
Beato Papa João XXIIIOFS, nascido Angelo Giuseppe Roncalli (Sotto Il Monte25 de Novembro de 1881 — Vaticano3 de Junho de 1963) foi Papa e líder mundial da Igreja Católica Apostólica Romana e Soberano da Cidade do Vaticanode 28 de outubro de 1958 até à data da sua morte. Pertencia à Ordem Franciscana Secular (OFS) e escolheu como lema papal: Obediência e Paz.

No campo político podemos destacar as mudanças que ocorreram na África como por exemplo, a emancipação dos países colonizados. Várias colônias "saíram" do julgo dos países ricos e capitalistas exploradores. Isso não só os tornaram livres mas também deixou profundas marcas de miséria espalhada pela África. Para ressaltar esses acontecimentos, vejamos um das guerras mais marcante do pós-guerra: a guerra do Vietnã (1959-1975). 
No começo da década de 1970, os protestos contra a guerra aconteciam em grande quantidade nos Estados Unidos. Jovens, grupos pacifistas e a população em geral iam para as ruas pedir a saída dos Estados Unidos do conflito e o retorno imediato das tropas. Neste momento, já eram milhares os soldados norte-americanos mortos no conflito. A televisão mostrava as cenas violentas e cruéis da guerra. 

Outro campo que sofreu muitas mudanças com a guerra, e talvez o mais expressivo, foi o campo econômico. Evidentemente que pode-se destacar o socialismo e capitalismo que travaram embates caracterizando assim a guerra fria. Seu símbolo, o Muro de Berlin.
Símbolo maior da Guerra Fria, o Muro de Berlim foi construído em 1961 e dividiu por 28 anos a Alemanha em dois blocos: a República Democrática da Alemanha - que seguia o regime socialista liderado pela União Soviética - e a República Federal da Alemanha -conduzida sob o regime capitalista. Depois da derrocada dos regimes socialistas, ele foi derrubado em 9 de novembro de 1989.

O campo cultural foi sem dúvida onde as transformações se intensificaram com o advento da tecnologia, computador. internet, sistemas telefônicos, mídia, etc. O movimento Hippie nasceu e teve o seu maior desenvolvimento nos EUA. Foi um movimento de uma juventude rica e escolarizada que recusava a injustiças e desigualdades da sociedade americana, nomeadamente a segregação racial. Desconfiava do poder econômico-militar e defendia os valores da natureza. Na sua expressão mais radical, os jovens hippies abandonavam o conforto dos lares paternos e rumavam para as cidades, principalmente S. Francisco, para aí viver em comunidade com outros hippies; noutros casos estabeleceram-se em comunas rurais. Dois valores defendidos eram a “paz” e o “amor”.

"Porém agora o que nos resta? Somente aquilo que tanto o homem do século XX procurava: autonomia. Mas ainda nem todos a tem e nem todo mundo quer tê-la. Autonomia requer responsabilidade e responsabilidade não é para todos e sim para uma minoria. Então o que resta para a maioria? Jugo, prisão e opressão e dominação."

Jander Lopes