HISTÓRIA E FILOSOFIA

quinta-feira, 16 de junho de 2011

RAUL SEIXAS - FILOSOFIAS POLÍTICAS E LUTAS


"Vai! E grita ao mundo que você está certo. Você aprendeu tudo enquanto estava mudo. Agora é necessário gritar e cantar Rock e demonstrar o teorema da vida e os macetes do xadrez."

                                 
Raul Seixas (1945-1989)


Quando entrei em contato pela primeira vez com as músicas de Raul Seixas no início dos anos 90, o que mais me atraíram de início foram os termos maniqueístas utilizados pelo cantor. A dualidade entre os conceitos vida-morte, céu-inferno, deus-diabo, bem-mal, etc. Isso dava um fascínio pelo motivo como são relacionados, ou seja, os conceitos são tratados de maneira que tanto um como o outro são demonstrados na poesia musical, dando a sua importância no contexto da existência humana. E o mais impressionante: sua música valoriza muito aqueles que o senso comum o consideram como um fator negativo, por exemplo, como a morte; o inferno; diabo; e por aí vai. E o mais interessante é que a incompreensão dessa exaltação do pessimismo a princípio, faziam com que eu me esforçasse a procurar o que significavam filosoficamente falando estes termos. 

"Não devemos mostrar a nossa cólera ou o nosso ódio senão por meio de atos. Os animais de sangue frio são os únicos que têm veneno".

                                                   Arthur Schopenhauer (1788-1860)
A visão de mundo de Schopenauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos. Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos."Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável", resume o comentarista inglês Brian Magee, ao referir-se ao modo como Schopenhauer encara a existência.
"Sou o que sou porque vivo da minha maneira... Você procurando respostas olhando pro espaço, e eu tão ocupado vivendo... Eu não me pergunto, Eu faço!" (Raul Seixas)

Mas Raul Seixas não era apenas um músico místico e nem simplesmente inspirado por alguma força exterior. Era uma pessoa que já há muito tempo havia entrado em contato com textos clássicos da filosofia de desde Sócrates passando por Rousseau até Schopenhauer. Era um mestre na arte de incrementar ditos filosóficos com frases musicais de sua autoria , e ao compor suas canções, fazia o que chamo de interpolação musical, ou seja, colocava ditos de filósofos e complementava com suas ideias, vejamos um exemplo: na música Ouro de tolo (1973), encontramos a seguinte citação:

É você olhar no espelho 
Se sentir um grandessíssimo idiota 
Saber que é humano, ridículo, limitado  Esta é uma citação de Rousseau (ver 
J.-J. ROUSSEAU, Manuscrito de Genebra, in Obras políticas, Porto Alegre: Globo,
1962, 171)

Em 1983 outra música gravada para um programa infantil da Rede Globo onde Raul é convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois, Raul é convidado para gravar o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da Rede Globo, onde canta a música "Carimbador Maluco". O álbum Raul Seixas (1983), que continha a canção, dá à Raul mais um disco de ouro. Essa música em especial, causou um certo "espanto" aos fãs pelo fato de Raul, aparentemente, ter trocado seus ideais anti-capitalista para o sistema vigente que tanto criticara. Mas não era verdade. Raul apenas aproveitou esse momento para colocar de maneira muito discreta algumas ideias do filósofo político e anarquista Pierre-Proudhon (1809-1865) no trecho, diz a música:

Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!!
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar....
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade

O texto original do filósofo diz: “(…) Ser governado é ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado, censurado, comandado…(Proudhon, P.-J.. O que é a Propriedade. São Paulo: Martins Fontes, 1988 p. 154.)

Podemos perceber a sutileza com que Raul Seixas colocava, através da música, suas ideias e dando à elas um respaldo com outras de grandes pensadores da filosofia. Não é por acaso que muitas pessoas dizem que esse cara cantava tudo e era dessa maneira que tornava-se um artista eclético e multi-cultural.

Pierre-Joseph Proudhon

Em 1840 publicou o livro O Que é a Propriedade?, sob os auspícios da Academia de Besançon, onde se declara pela primeira vez anarquista. O livro foi elogiado por Marx, que o tentaria atrair mais tarde (1846) para um grupo de pensadores socialistas. No entanto, Proudhon na resposta a Marx questiona a criação de novos dogmas, o que levaria à ruptura com o socialista alemão.