HISTÓRIA E FILOSOFIA

domingo, 12 de janeiro de 2014

ENQUANTO ISSO, FREUD EXPLICA!

Foi precisamente por causa dos perigos com que a natureza nos ameaça que nos reunimos e criamos a civilização, a qual também, entre outras coisas, se destina a tornar possível nossa vida comunal, pois a principal missão, sua raison d'être [razão de ser] real, é nos defender contra a natureza. (FREUD, 2001, p. 26).


Não sei se os defensores da natureza concordam com Freud quando tenta justificar o sentido de nossa razão de ser,  fazendo crer que isto é uma constante guerra contra a natureza. No dito acima (foto), o homem da psicanálise, aborda uma questão um tanto quanto denunciadora das ações da própria natureza. Faz dela uma vilã implacável e o homem uma vítima indefesa. No cerne da questão, o homem não quer de fato preservar a natureza, pelo menos no sentido freudiano. Não há uma harmonia entre homem e natureza. Não está em jogo a preservação da natureza em si, e sim, um medo que o homem tem de perder para ela alguns elementos que o mantenha vivo e confortável, tais como, a conservação de si e a satisfação de seus apetites fisiológicos. 

Segundo Freud, só existe civilização por causa dos perigos que a natureza impôs ao homem. Com isso, a natureza proporcionou-lhe uma autonomia diante das adversidades que ele próprio conquistou. Agora é hora do homem se defender daquela que outrora foi o catalizador para a preparação do caminho na formação da civilização.

De fato, não há e nunca houve da parte dos homens, uma preservação pela preservação em si mesma para com a natureza. Um homem não tenta impedir que alguém derrube uma árvore, simplesmente pelo bem estar da natureza ou da árvore. Se  o homem demonstra um sentimento de piedade para com a natureza, implicitamente ele quer dizer, "cuidar da natureza é cuidar de mim".
"Vivemos numa época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar-se a si mesmo".

Albert Schweitzer (1875- 1965) 


Ainda segundo Freud, há um medo na própria humanidade que proporcione essa busca pela preservação. Em última instância, a preservação é pelo bem estar da humanidade, e não da própria natureza em si. E se destruirmos alguns elementos importante para nossa sobrevivência?  Como a água, por exemplo -  pergunta os conservadores de plantão. E se a desertificação tornar as florestas desoladas? A resposta é: isso também não são fenômenos naturais? Onde hoje é deserto, não era antes uma linda floresta? Onde agora há falta de água, não era tão abundante em outras épocas? Então como explicar toda desertificação do planeta Marte e seus rios que hoje, sabemos, são apenas meras gargantas e abismos? Evidentemente que isso foi obra da própria natureza. Mas o que é o homem então, se não é também parte integrante da natureza e co-autor de suas transformações?

A preocupação que muitos tem diante dos impactos na natureza, implica em muito mais numa preservação do homem pelo homem do que num cuidado com o que a natureza precisa. No fim das contas o homem é sempre o protagonista de todas as ações, e é ele que deve fazer as coisas  darem sentido no mundo.