HISTÓRIA E FILOSOFIA

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

É POSSÍVEL UM CONHECIMENTO VERDADEIRO?


"O truque da filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda."

Bertrand Russell

Não é possível o homem procurar o que já sabe, nem o que não sabe, porque não necessita procurar aquilo que sabe, e,quanto ao que não sabe, não podia procurá­lo, visto não saber sequer o que havia de procurar.”(Mênon, 81)


Com a seguinte passagem acima podemos perceber quão grande era o interesse pelo saber verdadeiro, e que até aos dias de hoje tal pergunta repercute como uma dissonância interminável de uma pergunta mais que milenar. É bem provável que na busca pela resposta, os antigos viram-se numa das maiores aporias já registradas pelos filósofos desde a antiguidade e que pelo caminho percorrido tal questionamento, muitos talvez, tenham abandonado tal empreendimento. Nesse sentido, podemos afirmar que as bases para uma longa trajetória de debates estava posta. Tão longa que levaria até um dos mais sistemático dos filósofos do período moderno, a criar artifícios ou métodos que podiam validar tal conhecimento. Immanuel Kant (1724-1804), em sua tabela de categorias, tentou de certa forma decodificar ou “estruturar” outras categorias já há muito estabelecidas por outros filósofos que tentaram dar uma solução satisfatória para o problema do conhecimento verdadeiro. Com isso, podemos afirmar que os métodos nem sempre foram específicos em suas estruturas lógicas para poderem dar uma solução autêntica sobre a pergunta: como podemos validar o conhecimento verdadeiro?

Podemos conhecer pelo método? Qual o melhor caminho (méthodos)?

Com a antiguidade tínhamos no questionamento uma procura do saber verdadeiro. Na modernidade era necessário estabelecer critério de como fazer para que tal conhecimento pudesse por si só adquirir validade. Então surge diante dos métodos, o questionamento do próprio método. Qual método poderia dar conta de tal epistemologia? E afinal o que é método? A palavra método vem do grego, methodos, composta de meta: através de, por meio, e de hodos: via, caminho. Servir-se de um método é, antes de tudo, tentar ordenar o trajeto através do qual se possa alcançar os objetivos projetados. Em poucas palavras, o melhor método não foi tomado como parâmetro para a pesquisa pois, nenhum deles conseguiram solucionar tão grande aporia.

"Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir."

Descartes


O racionalismo cartesiano. A dúvida é o melhor método?

Mas pelo que se sabe é que antes mesmo dos métodos, surgiram teorias dissidentes dentre os filósofos da modernidade no que diz respeito às formas ou sistemas epistemológicos, por exemplo, o ceticismo ganhou muita força e com os empiristas David Hume (1711-1776) e Jonh Locke (1632-1704) levou outros ao extremo do racionalismo como Descartes (1596-1650) que através da dúvida metódica cria um estratagema para se chegar a uma verdade indubitável. Para ele a verdade deve ser distinta e clara. Na obra Regras para a direção do espírito e é composta por 21 proposições (regras) e permaneceu incompleta. Sua proposta é que seu método se aplica a tudo (Regra I), implicando em um completar da ciência (Regra VII). Nesta obra o método é a base da proposta cartesiana. É através dele que chegamos a verdade. Nas afirmações cartesianas, nosso conhecimento ocorre na apreensão da “substância”, ou seja, daquilo que não precisa de nada mais que a si mesmo para existir, constituindo a essência das coisas (racionalismo). A proposta cartesiana é a primeira a por o sujeito como base da epistemologia. A subjetividade moderna inicia-se com o “penso, logo existo”.

"O hábito... é o grande guia da vida humana."

David Hume


David Hume e seu método indutivo. “O pensamento mais vivo é sempre inferior a sensação mais embaraçada”.

Com Hume o empirismo é marcado pelo método indutivo. Apóia-se em um “realismo”. A verdade está nas coisas experienciadas pelo sujeito. Com isso Hume propões o seguinte problema: a indução é a única forma de conhecimento, no entanto não garante verdade absoluta. Tudo é hábito. Para o empirista o conhecimento deriva da sensação ou experiência, e só posteriormente são interpretados os dados empíricos pela razão. Os empiristas criticam diretamente: as ideias inatas, a noção de substância e a autonomia epistemológica do sujeito (eu). Só conhecemos pela sensação e por ela chegamos a conhecimentos possíveis, mas não verossímeis. Tudo deriva da relação de causa e efeito: a partir das impressões somos induzidos a conjeturar nosso conhecimento. As ideias derivam das seguintes conjeturas: semelhança, contiguidade e causalidade.

"Todo o conhecimento humano começou com intuições, passou daí aos conceitos e terminou com ideias."

Kant


O criticismo kantiano. A Crítica da Razão Pura propõe uma análise das “condições de possibilidade” do conhecimento.





A proposta kantiana é a de uma fundamentação da ciência, e representa as bases do conhecimento. Seu sistema resume-se a quatro questões:
a-      O que posso conhecer?
b-      O que devo fazer?
c-      O que posso esperar?
d-     Afinal, o que é o homem?
Kant busca estabelecer as condições de possibilidade do conhecimento (condições transcendentais). Para o filósofo os juízos que emitimos sobre a realidade são baseados nos “fenômenos”, pois as “coisas em si mesmas” nos são inacessíveis. Somente conhecemos o que está no tempo e no espaço. Nossos juízos podem ser de duas ordens: juízos analíticos, onde o predicado está contido no sujeito e juízos sintéticos onde o predicado é uma extensão do sujeito.
Para Kant apenas conhecemos por meio dos fenômenos, logo as coisas são como nos aparecem, sendo o homem o doador de sentido à realidade. Mas como isso é possível? Esse é o grande problema a ser resolvido. Para resolver o problema, Kant estabelece um quadro de categorias pelas quais “lemos” a realidade, eis a análise da “Razão Pura”.

Como vimos diante das exposições, o conhecimento desde a antiguidade apresentou-se como um problema a ser resolvido diante do próprio saber filosófico. Afinal, quando o homem começou a questionar a posição ou formas dos objetos externos, também teve consequentemente que pensar conceitos subjetivos como a justiça, o bem, ou o próprio ser. Mais adiante o questionamento sobre o verdadeiro conhecimento para ser validado, teria que ter respaldo de um método que ratificasse o verdadeiro conhecimento. Nas colocações dos filósofos, observa-se que cada ponderação em sua estrutura de cada método, há pontos que não podem sustentar que ele mesmo possa validar o conhecimento. Tenho como o mais próximo de resolver a questão o método kantiano já que este se utiliza de uma estrutura complexa que envolve sentidos abstratos. Mas é necessário ressaltar que o pensamento humano jamais pode dar conta da realidade. Por isso é necessário afirmar que o método kantiano encontra-se longe de tal resolução completa, mas pode muito oferecer sentido para que possamos realizar uma reflexão lógica.
A cada momento a ciência avança com suas estruturas de pesquisas e que sempre oferecerá ao homem uma melhor compreensão das causas dos fenômenos. Diante disso, sempre haverá uma investigação mais apurada daquilo que entendemos como o conhecimento definitivo dos fenômenos. Então serão apresentados novos métodos, não para a ciência, mas para o próprio conhecimento filosófico. A complexidade é sempre no campo da abstração. Essa dificuldade se dar pelo fato de não termos um parâmetro de investigação, ou seja, não podemos mensurar o abstrato. Nesse sentido, questões sobre Deus, o Ser e a justiça sempre será conceitos questionáveis onde, no caso do método kantiano, pode dar uma pequena contribuição para o entendimento. Mas sempre não dará conta de todos os conceitos abstratos.

Um comentário:

  1. gostei muito...reativei algumas memorias ... ao mesmo tempo sentir saudades do meu queridíssimo professor marcos césar... parabéns pelo conhecimento absoluto da filosofia... Rosângela Fernandes

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